A arte do ensaio: a vocação socrática de Proteu
2011; University of Coimbra; Volume: 32; Linguagem: Português
10.14195/2183-8925_32_21
ISSN2183-8925
Autores Tópico(s)Cultural, Media, and Literary Studies
ResumoA critica permanente as filosofias de identidade, em crise desde o seculo XVI, permitiu a emergencia de uma nova forma de escrita, antropocentrica, centrada no eu - o ensaio - que teve o seu inicio com Montaigne. A contingencia e precariedade do eu, a sua incomensurabilidade, conduziram a uma forma de expressao experimental, solitaria, anti-dogmatica, dubitativa e ceptica, assistematica, hostil a logica discursiva (tanto indutiva como dedutiva) optando, em contrapartida, pela escrita descontinua, finita, fragmentaria e inacabada, que privilegia os processos e nao os resultados. Ora esta forma do ensaio, sem renunciar ao conhecimento da realidade - o ensaio nao ficciona - deslocou, contudo, esse conhecimento para o concreto imediato e polissemico - que irrompe, informe, no eu - e a verdade para a intertextualidade. Esta deslocacao, colocou, contudo, varios problemas: o metodo do ensaio (que nao sendo alogico, recusa, contudo, o pressuposto do das ciencias, ou seja, a correspondencia entre a ordo idearum e a ordo rerum, que tem o seu prototipo nas regras do metodo de Descartes); as relacoes do ensaio com a retorica (cujas figuras recusa, como auxiliares da argumentacao), com o leitor (interactividade dialogica, solicitada pela duvida quase pirronica em que o ensaista se coloca), com a obra de arte (Lukacs) e com a ciencia (Adorno). Mas ainda que, actualmente, se reconheca autonomia formal ao ensaio e se saiba que nao e uma obra de arte (a nao ser na sua atitude perante a vida) nem uma obra cientifica (nao recorre a inducao nem a deducao), o seu genero continua indefinivel, revelando-se, a sua definicao generica, em ultima instância, uma questao onto-filosofica.
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