A producão trovadoresca de Afonso X: 2. Entre trovadores e jograis galego-portugueses
2015; Volume: 43; Issue: 2 Linguagem: Português
10.1353/cor.2015.0006
ISSN1947-4261
Autores Tópico(s)Medieval and Early Modern Iberia
ResumoA producão trovadoresca de Afonso X2. Entre trovadores e jograis galego-portugueses António Resende de Oliveira No núcleo de composições que os cancioneiros quinhentistas atribuem ao “rey Don Affonso de Castela e de Leon”–e que, salvo raras excepções, constituem o conjunto de cantares compostos pelo Sábio após ter sucedido ao pai no governo de Castela em 1252–algumas delas reflectem a atenção que o rei terá dispensado ao círculo trovadoresco galego-português que o rodeou em diferentes momentos da sua vida.1 Resultam quer da interpelação de trovadores sobre assuntos do quotidiano cortesão ou relacionados com a própria actividade trovadoresca, quer do interesse do monarca em comentar comportamentos e atitudes ou orientações artísticas. E outras enfim, não se dirigindo especificamente a qualquer deles, acabam por evocar alguns nomes que fazem parte da história recente ou mais remota da vertente galego-portuguesa do trovadorismo. Depois de ter dedicado algum espaço à soldadeira Maria Peres Balteira, parece fazer [End Page 5] sentido continuar esta revisitação da obra satírica de Afonso X olhando para os cantares dirigidos ao próprio círculo trovadoresco de onde proveio a imagem da soldadeira já esboçada.2 Na realidade, o diálogo régio com os trovadores galego-portugueses iniciara-se antes de meados do século, no período em que, ainda infante, apoiava o pai na retaguarda leonesa e na estabilização da área murciana.3 Refiro-me, concretamente à composição dirigida a Gonçalo Anes do Vinhal, Don Gonçalo pois queredes ir daqui pera Sevilha, que foi situada já em 1248 (Oliveira, “D. Afonso X, infante e trovador I” 15-16)4 e à tenção com Pero Garcia Burgalês Senhor, eu quer’ ora de vos saber, onde o Burgalês discute em chave irónica com um “Senhor” sobre o sofrimento amoroso e suas panaceias (LP 125, 49).5 Na primeira, o infante dirige-se ao cavaleiro e trovador português que o apoiara na empresa murciana alguns anos antes, e se manteria posteriormente em Castela,6 parecendo traçar-lhe um elogioso retrato militar e cortês–mas cujos pormenores [End Page 6] não se conseguem apreender na sua totalidade7–e dando conta também de um qualquer diferendo que Vinhal teria tido com João Soares Coelho. É o facto de este, um outro trovador português presente em Castela, estar por essa altura de regresso a Portugal, onde engrossaria o círculo cortesão de D. Afonso III, que permite situar a composição na data proposta. Já quanto à tenção do Burgalês, é a hipótese apresentada–e credibilizada pelo próprio trajecto do trovador de Burgos–isto é, a identificação do “Senhor” com o próprio infante, que viabiliza a sua integração neste contexto, podendo mesmo tratar-se da primeira composição do Sábio em diálogo com um trovador galego-português. Na verdade, a presença do autor no repartimento de Valência–onde se documentam outros trovadores como Pero da Ponte, Caldeiron, Arnaut Catalan, Bertran Carbonell ou Guillem Ademar (Ron Fernández 180–81)–e o facto do próprio Catalan ter tençoado igualmente com um “Senhor”, permite pensar que ambas as composições terão sido não somente divididas com o infante castelhano, mas também que a sua produção não se terá afastado muitos anos dessa presença conjunta em Valência, apesar de, à falta de outros elementos de apoio, não ser possível uma datação tão precisa quanto a da sátira anterior. Após 1252, este diálogo manteve-se e, desde logo, nas tenções com Garcia Peres e com Vasco Gil, provavelmente duas das primeiras composições do novo rei. A de Garcia Peres, Ũa pregunt’ ar quer’ a el-Rei fazer (Paredes X),8 debruça-se, aparentemente, sobre uns ornatos de vestuário em pele que o rei usaria há demasiado tempo e que davam, portanto, sinais de velhice. Na primeira estrofe o autor anuncia o tema e invoca um outro comparsa na brincadeira...
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