Ética da justiça e do trabalho em Hesíodo

2004; Catholic University of Portugal; Volume: 13; Issue: 13 Linguagem: Português

ISSN

0872-0215

Autores

José Ribeiro Ferreira,

Tópico(s)

Classical Philosophy and Thought

Resumo

Tratar da «Etica da justica e do trabalho em Hesiodo» sera falar das suas obras chegadas ate nos, a Teogonia e os Trabalhos e Dias, dois poemas tematicamente muito distintos — o primeiro sobre a origem dos deuses e o segundo centrado nos trabalhos agricolas e nos conselhos sobre a navegacao —, percorridos um e outro por uma aguda nocao de justica, com o segundo a apresentar ainda um elevado conceito do trabalho. Na Teogonia, Hesiodo ve deuses em tudo o que se lhe apresenta como vivo na natureza e acredita nos poderes divinos. Se nao tivesse fe nos deuses que descreve, toda a Teogonia nao teria sentido. Com os nomes divinos, como sublinha Bruno Snell, ele quer designar ou descrever o que existe, vive e tem significado no mundo. E como se assistissemos afinal a uma individualizacao e personificacao sucessiva dos elementos, dos fenomenos e forcas da natureza, dos acidentes fisicos da Terra ate nos encontrarmos na presenca de deuses. Dai que possamos afirmar que Hesiodo faz preceder a Teogonia uma Cosmogonia, racionalizando assim a criacao do Mundo. A Teogonia distingue duas linhagens de divindades: uma, que agrupa o que ha de negativo, sombrio, malefico, violento, encontra-se personificada na descendencia da Noite e do Erebo; a outra — simbolizada nos mitos de Urano, Cronos, Zeus — caminha no sentido da ordem e da justica, eliminando e separando com o tempo o que e temivel e negativo. Vejamos cada uma delas com mais pormenor. No inicio havia a negra Noite e Erebo, que e seu irmao, as duas faces das trevas do Mundo: respectivamente, a das partes superiores e a das partes subterrâneas e inferiores. Os dois sao entidades do Caos que, como observa Pierre Grimal, nao e «o vazio inexistente e negativo dos fisicos e dos sabios, mas um vazio que e todo ele poder e

Referência(s)