Causalidade circular e causação mental: uma saída para a oposição internalismo versus externalismo?
2002; UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS; Volume: 25; Issue: 3 Linguagem: Português
ISSN
2317-630X
AutoresPim Haselager, Maria Eunice Quilici González,
Tópico(s)Philosophy and History of Science
ResumoO debate internalismo versus externalismo e frequentemente construido na forma de uma oposicao direta entre conteudo mental e causacao mental. Tal oposicao reforca uma tendencia a se tomar partido no debate. Alguns sustentam que o fisicalismo falhou, uma vez que nao existe uma explicacao sobre o papel do conteudo mental externo na causacao interna do comportamento. Outros (notavelmente Jaegwon Kim) tomam o partido do fisicalismo e argumentam que ele nao deixa lugar para um papel causal do conteudo mental (ou para a mente em geral). Defendemos aqui a hipotese de que o debate internalismo versus externalismo nao necessita de um vencedor e propomos a dissolucao de tal oposicao. Indicaremos uma saida para essa disputa focalizando a suposicao fisicalista segundo a qual o conteudo mental nao pode desempenhar um papel causal genuino na producao do comportamento. De acordo com Kim, o fisicalismo nos coloca diante de um dilema: o mental pode ser reduzido ao fisico ou, alternativamente, o mental nao pode ser reduzido ao fisico. No primeiro caso, o conteudo mental torna-se um mero epifenomeno. No segundo, a irredutibilidade do mental deixa inexplicado, e portanto misterioso, o seu poder causal. Diferentemente de Kim, procuraremos escapar do dilema sugerido, ao mesmo tempo em que preservaremos o fisicalismo. Procuraremos mostrar que o dilema “epifenomenalize ou mistifique” e falso, uma vez que ele pressupoe uma concepcao de explicacao e de reducao que, embora seja predominante na ciencia cognitiva, nao leva em consideracao a natureza dinâmica da cognicao. Uma analise cuidadosa da estrategia explanatoria cognitivista – i.e reducao via analise funcional (decomposicao e localizacao) – revela que ela e valida apenas para sistemas nos quais a interacao entre os seus componentes internos e minima. Tal analise coincide com a visao cognitivista da mente entendida como um sistema composto por representacoes mentais. Sustentaremos que a mente e um sistema incorporado e situado, cuja natureza dinâmica nao pode ser explicada pela estrategia cognitivista tradicional. Como ocorre frequentemente com os sistemas dinâmicos, a causalidade circular se faz presente, o que significa dizer que variaveis de ordem superior, no plano macroscopico, restringem o comportamento dos componentes de ordem inferior, no plano microscopico. Esta nocao de causalidade circular indica a importância de variaveis no plano macroscopico para os processos que operam no plano microscopico. Forneceremos exemplos de aplicacao da causalidade circular na cognicao para ilustrar a inadequacao das estrategias explanatorias reducionistas tradicionais. Concluiremos, entao, que o dilema proposto por Kim pressupoe um modelo de explicacao reducionista que e inapropriado para abordar os aspectos dinâmicos da cognicao. Mais especificamente, argumentaremos que o fisicalismo nao conduz ao epifenomenalismo nem ao misterio.De modo geral, sustentamos que uma compreensao apropriada da natureza dinâmica da cognicao pode fornecer uma saida para a oposicao perene entre externalismo e internalismo.
Referência(s)