A SIDA e as novas pestes
2003; Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa; Volume: 38; Issue: 166 Linguagem: Português
ISSN
2182-2999
Autores Tópico(s)Vaccine Coverage and Hesitancy
ResumoEm 1969, cerca de dez anos antes do inicio da epidemia de SIDA, o director-geral da Saude norte-americano da altura, William Steward, anunciava perante o Congresso que se podia finalmente fechar o livro das doencas infecciosas (Crawford, 2000). Curiosamente, nesse tempo a afirmacao nao suscitou polemica. De facto, a confianca e optimismo contidos nesta declaracao correspondiam ao espirito da epoca. Este cenario tinha, alias, sido antecipado anos antes por Sir MacFarlane Burnett, quando, em 1962, escrevia «podemos pensar na segunda metade do seculo XX como o fim de uma das mais importantes revolucoes sociais da historia, a eliminacao virtual das doencas infecciosas como um factor significativo da vida social» (Burnet, 1962). Nesta mesma perspectiva, em 1977, a Assembleia Mundial para a Saude estabelecia como objectivo para o ano 2000 atingir um nivel de saude que permitisse a todas as pessoas no mundo ter uma vida social e economica produtiva atraves da accao concertada da Organizacao Mundial de Saude e dos governos. Continuando no mesmo registo, nasceu em 1981 o movimento «Saude para todos», que antecipava para breve um tempo com niveis de saude sem precedentes, conforme referido no documento «Global strategy for health for all by the year 2000» (Moore, 2001). Vivi este clima durante os anos 70, enquanto fazia a minha formacao medica pos-graduada. Nao deixa de ser ironico e revelador que a epidemia da SIDA tenha surgido no auge deste periodo.
Referência(s)