Artigo Acesso aberto Produção Nacional

O clima, a paz e a saúde

2014; Instituto Materno Infantil de Pernambuco; Volume: 14; Issue: 2 Linguagem: Português

10.1590/s1519-38292014000200001

ISSN

1806-9304

Autores

Malaquias Batista Filho, Luciano Vidal Batista,

Tópico(s)

Climate Change and Health Impacts

Resumo

O clima, a paz e a saúdeHá uns 60 anos, demarcando um período de tempo muito breve em termos históricos, atribuía-se ao clima uma série considerável de efeitos adversos sobre a saúde humana e dos animais domésticos ou silvestres que convivem nos peridomicílios rurais ou urbanos, constituindo nossos ecossistemas de vida.A temperatura, os regimes de chuvas, as montanhas, florestas, rios, lagos e oceanos, enfim, a geografia física tinha um papel preponderante na distribuição das doenças.Neste sentido, convém referenciar o trabalho pioneiro de Hipócrates (De Águas, Rios e Lugares), escrito há uns 400 anos a.c., estabelecendo os fundamentos ambientais do processo saúde/doença como princípios básicos da própria Medicina. 1 Estas visões se prolongaram por gerações sucessivas e alcançaram seu maior prestígio no século passado.É ilustrativa desse paradigma a consolidação do conceito de doenças tropicais, representando um campo próprio de estudo e aplicação de programas de saúde, enfocados nos males que dominavam o cenário nosográfico de países e continentes compreendidos entre o Trópico de Capricórnio, no hemisfério Sul, e o de Câncer, no hemisfério Norte.Era a chamada "Zona Tórrida", uma denominação que em si já era preconceituosa. 2a realidade, mais de que as características físicas, o que explicava a geografia das doenças era a geografia da pobreza, a condição de subdesenvolvimento das populações que habitavam os trópicos, subjugadas durante séculos por povos não tropicais que formatavam os impérios políticos das potências colonizadoras -a Inglaterra, a França, a Espanha, Portugal e o próprio Japão.Em outras palavras: a hegemonia epidemiológica das doenças tropicais eram a decorrência imediata da hegemonia econômica, política e militar de povos não tropicais que impuseram seus interesses, sua cultura e seu modus operandi no vasto território de continentes e países equatoriais. 2,3Como os males da saúde eram geográficos, a solução seria impor aos povos colonizados, sob a custódia das milícias metropolitanas, os avanços da ciência e da tecnologia que pudessem superar os desafios do ambiente físico e biótico, além dos entraves de culturas autóctones caracterizadas pela apatia, o primitivismo, a crença em divindades e valores próprios do subdesenvolvimento

Referência(s)