História e memória: combates pela história
2012; Associação Brasileira de História Oral (ABHO); Volume: 10; Issue: 1 Linguagem: Português
10.51880/ho.v10i1.206
ISSN2358-1654
Autores Tópico(s)Brazilian History and Foreign Policy
ResumoINTRODUCAO Um dos temas com o qual venho trabalhando ha alguns anos esta relacionado ahistoria politica do periodo anterior ao golpe civil-militar de 1964. Entre as questoes que ahistoriografia acerca desse tema suscita, encontra-se aquela relacionada a atuacao da Igrejaantes e depois de 1964. O livro de Antonio Callado Tempo de Arraes: a revolucao semviolencia1, escrito inicialmente como reportagem, afirma que a Igreja Catolica e o PartidoComunista, em Pernambuco, atuavam juntos. Marcio Moreira Alves, na introducao do seulivro O Cristo do povo, observa que ja em 1965 os cristaos, tanto catolicos como protestantes,ofereciam resistencia ao regime que se instalara em 1964. Este seu livro, iniciado em 1966,surgiu do interesse em pesquisar os discursos e as praticas, principalmente dos catolicos, que os tornavam adversarios do regime que se estabelecera.2 O brasilianista Scott Mainwaring, aonarrar a relacao da CNBB com o regime, transcreve a nota emitida pelos bispos em junho de1964, de apoio ao regime. Mas observa que, “embora este documento da CNBB agradecesseaos militares por salvarem o pais, havia alguns paragrafos mais criticos que revelavam asposicoes profundamente contraditorias dentro do episcopado.” Revela o autor que, mesmocom o predominio dos bispos conservadores na direcao da CNBB, de 1964 ate 1968, estainstituicao nunca se apresentou como um bloco homogeneo.3O diversificado debate historiografico acerca desse tema ampliava-se a medida que asminhas pesquisas avancavam e entravam em contato com uma vasta producao bibliograficade autores como Clodovis Boff, Leonardo Boff, Jose Comblin, Pedro Casaldaliga, RiolandoAzzi, Rubem Alves, Frei Betto, Thomas Bruneau, Carlos Rodrigues Brandao, EduardoHoornaert, Ralph Della Cava, Emmanuel de Kadt, Jose Batista Libânio, alem da analise de1 CALLADO, Antonio. Tempo de Arraes: a revolucao sem violencia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.2 ALVES, Marcio Moreira. O Cristo do povo. Rio de Janeiro: Sabia, 1968. p. 5.3 MAINWARING, Scott. Igreja Catolica e politica no Brasil: 1916-1985. Sao Paulo: Brasiliense, 1989.2artigos em jornais e revistas. Essas leituras ajudaram na formulacao de uma primeira questao.Percebi como, apesar da forca e da presenca historica do catolicismo na sociedade, a IgrejaCatolica do Brasil sempre se ressentiu (desde o periodo colonial ate os dias atuais) da falta depadres para atender seus fieis, espalhados por esse vasto territorio. Dessa forma, a presencasignificativa de sacerdotes vindos de outros paises tornou-se sua marca ou uma caracteristicado clero no Brasil. Observei ainda que a historiografia, especialmente livros e artigosrelacionados a igreja, nao se voltavam para os discursos e as praticas micro-historicas; naodiscutiam o pensamento e as acoes do clero em seu cotidiano. Ao mesmo tempo, esse silenciodespertava em mim uma enorme curiosidade em conhecer as motivacoes ou as representacoesconstruidas pelos padres que saiam de suas ricas dioceses da Europa para vir atuar no Brasil e,em especial, no Nordeste naquelas decadas de 1950/1960. Esta curiosidade se desdobrava emindagacoes como: qual a visao que possuiam do Brasil, e como vivenciaram a experienciasocial, economica e politica de viver em uma outra cultura? Qual a formacao que tiveram naEuropa? O marxismo e a experiencia de padres operarios os haviam influenciado? Com essasquestoes, bastante gerais, iniciei uma pesquisa (apoiada pelo CNPq) que estabelecia como umdos seus objetivos realizar entrevistas de historia de vida com padres que emigraram daEuropa para o Brasil, tanto no periodo anterior a 1964 como no imediatamente posterior.
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