Artigo Acesso aberto

Doença de Pompe Juvenil: Estudo Retrospetivo de Casuística Clínica

2013; Ordem dos Médicos; Volume: 26; Issue: 4 Linguagem: Português

10.20344/amp.180

ISSN

1646-0758

Autores

Filipa Loureiro Neves, Paula Garcia, Ana Raquel Madureira, Henriqueta Araújo, Fidjy Rodrigues, Maria Helena Estêvão, Lúcia Lacerda, Luísa Maria Diogo Matos,

Tópico(s)

Child Nutrition and Feeding Issues

Resumo

Introdução: A doença de Pompe ou glicogenose tipo II é uma doença autossómica recessiva por deficiência de maltase ácida. É uma entidade rara, com prevalência de 1/40.000 nas populações holandesa e afro-americana e 1/46000 na população australiana. Embora se distingam três formas de apresentação (infantil, juvenil e do adulto), observa-se um amplo espectro clínico. Em Portugal está disponível terapêutica enzimática de substituição desde 2006.Material e Métodos: Fez-se o estudo retrospetivo de quatro doentes (duas das quais irmãs), baseado na revisão dos processos clínicos.Resultados: Em todas, a doença manifestou-se no segundo ano de vida. O tempo até ao diagnóstico variou entre dois e onze anos. Aquando do diagnóstico, todas apresentavam miopatia com atraso de aquisições motoras e em duas havia hipertrofia miocárdica. A suspeita clínica surgiu por insuficiência respiratória em contexto infeccioso em duas doentes. Em todas havia elevação da creatina quinase e das aminotransferases. Todas evoluíram com insuficiência respiratória crónica por síndrome restritiva. O diagnóstico foi baseado na diminuição da atividade da maltase ácida em fibroblastos (0 a 1,5% do limite inferior do normal). Na biópsia muscular, realizada em três doentes, demonstrou-se acumulação lisossómica de glicogénio. Todas apresentavam a mutação c.1064T > C no exão 6 do gene GAA (glucosidase-alpha-acid), em homozigotia numa delas, associada às mutações c.1666A > G no exão 12 e c.2065G > A no exão 15 nas duas irmãs e à mutação c.380G > T no exão 2 na doente mais nova. Todas iniciaram terapia enzimática de substituiçãologo que disponível, com boa tolerância. A doente mais jovem faleceu pouco depois. As outras mantêm medidas de suporteventilatório e fisioterapia, deslocando-se a mais velha, em cadeira de rodas, mantendo a irmã marcha independente e necessitando a mais nova de andarilho.Conclusão: Os nossos casos incluem-se clinicamente na forma juvenil da doença de Pompe. A hipótese de doença de Pompe deve ser considerada em lactentes com miocardiopatia e nas miopatias progressivas, especialmente as das cinturas e dos músculos respiratórios em qualquer idade. A elevação da creatina quinase é um dado sensível, embora inespecífico. Dada a grande variabilidade dos achados genéticos, a demonstração da redução da atividade da maltase ácida continua a ser o pilar do diagnóstico.

Referência(s)