Um sertão enxertado de excessos...
2012; UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA; Issue: 1 Linguagem: Português
10.19174/esf.v0i1.3052
ISSN2446-6190
Autores Tópico(s)Urban and sociocultural dynamics
ResumoAdentrei no sertao, nao so fisicamente (fotografando), mais tambem cheia de referencias literarias e a procura dessas imagens que vindas da literatura nos provoca. Assim me enxertei de leituras de Guimaraes Rosa, Euclides da Cunha, Oswaldo Lamartine entre outros como paragens e alguns silencios, tao peculiar e necessario para essa travessia. O silencio do sertao nos penetra e so o percebemos melhor depois que nos afastamos dele. E um lugar que nos angustia mais tambem nos da prazer. E um silencio e um sertao incertos. Como diz Guimaraes Rosa: “ Lhe falo do sertao. Do que nao sei. Um grande sertao! Nao sei. Ninguem ainda nao sabe. So umas rarissimas pessoas ”¹. Em nenhum momento ou etapa da construcao dessas fotografias me foi muito claro ou racional os processos tecnicos. Acertei alguns resultados plasticos pelo erro, pelas tentativas. Nao cheguei a linguagem autoral racionalmente. Em principio juntar a fotografia da obra plastica com a fotografia retrato ou natureza foi apenas um ato experimental, foi talvez a vontade de sair da artificialidade facil da representacao do real. Foi fundamental e necessario, o lirico, o mistico, o sonho, como dose na construcao da forma. Eu nao queria apenas as imagens como representacao do real, eu precisava da fantasmagoria dos homens e suas imagens interiores. Impus assim um cenario com texturas florais, lembrando os bordados das bordadeiras do sertao e tentei dialogar com as figuras representativas do genero masculino, os vaqueiros. Assumi o desejo como elemento norteador dessas fotografias, como tambem na tentativa de compreensao desse sertao de solo fragil e forte, caracterizado por determinismos e acasos, fixacao e vertigem, sertao e mundo, vida e morte. Ate porque o sertao e antes de tudo paradoxal e assim antagonico. E terra de ninguem, como disse Glauber Rocha, “...deus e o diabo na terra do sol”. Terra de Lampiao, Antonio Conselheiro, Padre Cicero, santos, martires, beatos, profetas... Sertao de uma beleza singular, implacavel. Sertao de uma luz dura, que corta, fere os olhos de quem por ele caminha. E terra demoniaca, da onca Caetana ( figura da morte no sertao antigo), terra de caatinga nua e do humano forte que nela habita. Foi um sertao assim que procurei transportar para a fotografia. Angela Almeida- Professora doutora, pesquisadora na area de Estetica, Artes Plastica e Comunicacao- UFRN. Pesquisadora do grupo GRECOM –Grupo de Estudos da Complexidade. Nota 1. Rosa, Joao Guimaraes – Grande Sertao: Veredas- 1 ed. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006, pag 100.
Referência(s)