
O SUS como Escola
2009; Associção Brasileira de Educação Médica; Volume: 33; Issue: 3 Linguagem: Português
10.1590/s0100-55022009000300001
ISSN1981-5271
AutoresPatrícia Tempsk, Mayla Gabriela Silva Borba,
Tópico(s)Health, Nursing, Elderly Care
ResumoO ensino de Medicina no seculo 20 pode ser dividido em duas fases. A primeira se estabelece a partir do Relatorio Flexner, publicado nos Estados Unidos em 1910 e que tentou nortear o ensino medio americano por uma solida formacao em ciencias basicas, com a aprendizagem utilizando o hospital como cenario, alem de pouca enfase na prevencao e promocao de saude. Num momento historico marcado por grande diversidade na formacao medica, esse documento teve importante papel organizador do ensino e propiciou grande avanco do conhecimento, de tal forma que foi reproduzido em varios paises, inclusive no Brasil. A segunda fase da educacao medica se inicia a partir da decada de 1970, quando as ideias de prevencao e promocao da saude e o modelo de multicausalidade das doencas ganham visibilidade a partir do Relatorio Lalonde, no Canada, em 1974. Aetiologia das doencas e concebida a partir de fatores ambientais, acesso aos servicos de saude, estilos de vida e biologia humana. O ser humano e sua doenca passam a ser entendidos segundo uma visao de integralidade, tanto do seu sistema orgânico, como da sua inter-relacao com o ambiente, seu trabalho e seus semelhantes. A Conferencia Internacional da Organizacao Mundial da Saude, em Alma-Ata, em 1978, reforca este modelo ideologico da Medicina Integral, a importância da formacao de um medico generalista e da Atencao Primaria a Saude, apontando como meta Saude Para Todos no ano 2000. Na decada de 1980, exatamente dez anos apos a Conferencia de Alma-Ata, na reuniao da Federacao Mundial de Educacao Medica, constroi-se a Declaracao de Edimburgo. Entre outros importantes temas da formacao medica, nela se discutem as prioridades e estrategias educacionais, a articulacao entre escolas e servicos de saude e o compromisso social da escola medica. Tais mudancas no cenario internacional foram acompanhadas no Brasil pelo movimento sanitarista, que culminou com a formacao do Sistema Unico de Saude (SUS). Criado em 1988, o SUS tem por principios ideologicos a universidade, a integralidade e a equidade, alem dos principios organizacionais de descentralizacao, regionalizacao e hierarquizacao. A universalidade entende a saude como direito dos cidadaos, tendo o Estado a obrigacao de promover atencao a saude. A integralidade concebe a atencao a saude para alem dos meios curativos, envolvendo tambem os preventivos, nos âmbitos individual e coletivo. Ja a equidade garante que todos tenham iguais oportunidades de utilizar o sistema publico de saude. A Constituicao Federal afirma que, entre outras responsabilidades, compete ao SUS ordenar a formacao de recursos humanos na area de saude e incrementar em sua area de atuacao o desenvolvimento cientifico e tecnologico. O desafio apresentado aos educadores medicos no final do seculo 20 era formar um profissional para esta nova realidade, de integralidade da atencao, com acoes de promocao e prevencao da saude, com compromisso social e que atenda as demandas de saude da comunidade, sendo parte integrante do SUS. Mas como formar este profissional no modelo hegemonico, biologicista, cartesiano, com pouca enfase na prevencao e promocao da saude e focado na doenca e nao no ser humano doente e na sua realidade? Adecada de 1990 foi o momento de reflexao e avaliacao do ensino medico no Brasil. Em 1991, institui-se a Comissao Interinstitucional Nacional de Avaliacao do Ensino Medico (Cinaem), com representantes da Academia Nacional de Medicina, Associacao Brasileira de Educacao Medica, Sindicato Nacional dos Docentes das Instituicoes de Ensino Superior, Associacao Nacional de Medicos Resi-
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