Artigo Acesso aberto Produção Nacional Revisado por pares

As técnicas corporais e o fazer antropológico: questões de gênero no trabalho de campo

2005; Associação Sul-Rio-Grandense de Pesquisadores em História da Educação (ASPHE); Volume: 6; Issue: 14 Linguagem: Português

10.22456/1984-1191.9222

ISSN

1984-1191

Autores

Thaís Cunegatto, Cornélia Eckert, Ana Luiza Carvalho da Rocha,

Tópico(s)

Urban and sociocultural dynamics

Resumo

As mãos calejadas, os dedos lascados e os restos de tinta encobrindo as unhas configuram a estética manufatureira do ofício de sapateiro. As mãos são o instrumento de trabalho, os olhos fixos no objeto delineiam a atenção necessária, o sapato é a arte, o sapateiro: o artesão. Este ensaio busca analisar o material coletado em uma pesquisa que realizei em 2002 que tinha como objetivo desvelar um dos cenários de um bairro porto-alegrense, Cidade-Baixa, em Porto Alegre, através do estudo das práticas cotidianas de uma antiga profissão urbana configurando a feição deste território da cidade. Em particular, pretendo compreender as diferentes "técnicas corporais" empregadas por um sapateiro no exercício de seu oficio precisamente no momento em que dispõe o seu corpo como um dos instrumentos de seu trabalho. Trata-se aqui de interpretar as técnicas corporais deste "artesão" na confluência das técnicas corporais empregadas pelo etnógrafo em campo, em especial, no momento em que estes são os atores de um diálogo cultural. A cidade sendo um local em que convivem diversos grupos com experiências e vivência em parte comum, em parte diferente (OLIVEN, 1996) suscita a possibilidade do dialogo entre culturas diversas que gerenciam o convívio social. O estudo de sociedades complexas nos possibilita a compreensão desta teia de significados que constituem a cidade. As diferenças culturas propiciam o encontro cultural que regido por continuidades e descontinuidades trazem à tona a “tensão” do fazer etnográfico. Gilberto VELHO (1980:16) nos alerta que “a possibilidade de partilharmos patrimônios culturais com os membros da nossa sociedade não nos deve iludir a respeito de inúmeras descontinuidades e diferenças provindas de trajetórias, experiências e vivências específicas”. Utilizo aqui os dados obtidos de diversas fontes de registro do meu trabalho na Cidade Baixa junto à sapataria Sport, situada na Rua da República, na sua quadra próxima a Rua João Alfredo, isto é, desde os extratos de meu diário de campo, na época, das descrições das minhas observações participantes às transcrições feitas a partir das entrevistas semi – estruturadas que realizei com meu informante no local de seu trabalho.

Referência(s)