Artigo Revisado por pares

UM CINEMA À MARGEM

2009; Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara; Volume: 2; Issue: 15 Linguagem: Português

ISSN

1982-4718

Autores

Paulo Marcondes Ferreira Soares,

Tópico(s)

Sociology and Education in Brazil

Resumo

Este estudo discute o modo como cineastas dao orientacao estetica e politica a seus filmes e teorias esteticas, que fundam suas praticas. Procuro evidenciar como filmes, roteiros ou manifestos compoem um universo artistico-cultural e politico intricado, nao se podendo considera-los em separado, sobretudo, na experiencia de um cinema a margem tal como em certas manifestacoes cinematograficas no Brasil e na America Latina dos anos 1960. Os modelos escolhidos apontam, de um lado, para um realismo radical, que assume uma ideia de estrutura filmica documental que seja reveladora da estrutura social tal qual supostamente ela e. E o que se poderia chamar de cinema direto: especie de cinema sociologico, tal como realizado por Fernando Solanas, em La hora de los hornos. De outro lado, a opcao se da por mediacoes alegoricas, que identificam procedimentos especificos da narracao filmica, suas ambivalencias, sua natureza distinta do expressivamente politico. Neste caso, a enfase recai sobre a analise dos procedimentos especificos a fatura filmica (Glauber Rocha). Os sentidos atribuidos aos posicionamentos quanto a construcao de identidade relativamente a acao politica da arte sao, respectivamente, como se seguem: para os que tomam para si o primado da identidade, o conteudo diz a forma; para quem reivindica um sentido de atualizacao/modernizacao, a forma diz o conteudo. Reflexoes recentes sobre as repercussoes subsequentes dessas ideias, sob o influxo da globalizacao e do debate do pos-colonial, tem levantado questoes a proposito das possibilidades de mobilizacao de recursos e trajetorias diversas como meio alternativo a persistencia de nossa condicao de marginalizacao e submissao ao modelo dos paises hegemonicos. Nesse sentido, o cinema produzido nessas regioes perifericas se apresenta como expressao privilegiada, tambem, para se pensar a tensao atual entre o lugar e o nao-lugar global. Esse ponto, alias, indica uma questao bastante recorrente a proposito dos problemas e desafios quanto a autonomia das producoes cinematograficas nos paises perifericos, sobretudo, com respeito ao circuito global das atuais coproducoes, bem como, ao financiamento estatal. Esse quadro, com as devidas distincoes, expressa o desenho da maioria da producao cinematografica em contextos perifericos. Para o nosso caso, importa ver como se da o debate sobre a questao da autonomia e da identidade nos cinemas brasileiro, latino-americano e dos paises africanos de lingua portuguesa.

Referência(s)