Artigo Acesso aberto Produção Nacional Revisado por pares

O profissionalismo e a formação médica

2012; Associção Brasileira de Educação Médica; Volume: 36; Issue: 4 Linguagem: Português

10.1590/s0100-55022012000600001

ISSN

1981-5271

Autores

Sérgio Rêgo,

Tópico(s)

Business and Management Studies

Resumo

A palavra “profissional” esta associada a um conceito muito importante em nosso quotidia-no e para o qual gostariamos de trazer sua atencao neste final de ano. De fato, e facil associar ideias ao conceito de profissional quando, por exemplo, precisamos de um eletricista para nossa casa ou de um mecânico para o nosso carro. Queremos contratar alguem em quem possamos confiar e que detenha um conhecimento especializado que atenda as nossas neces-sidades. Infelizmente, nem sempre e facil achar um eletricista ou mecânico que atendam as nossas expectativas. Uma das razoes e que, nao sendo uma ocupacao plenamente regula-mentada, nao temos garantias de que os eletricistas e mecânicos com quem lidaremos te-nham a formacao e experiencia necessarias e nem a honestidade que se espera daqueles a quem gostariamos de nos referir como profissionais. Tentamos aumentar nossa chance de ter nossas expectativas atendidas recorrendo a estabelecimentos comerciais que possuem outras responsabilidades adicionais com seus clientes, entre as quais a de ter verificado as qualifica-coes e habilidades desses trabalhadores. Mas, saindo deste exemplo introdutorio, pensemos em sua relacao com as profissoes de fato e de direito e seus atores – os profissionais.Os sociologos costumam identificar algumas profissoes como icones da profissionaliza-cao, e a medicina, a engenharia e a advocacia estao entre os exemplos mais costumeiros e tradicionais. Podemos dizer, inclusive, que o modelo de profissional que extrapolamos para trabalhadores em geral tem sua origem nas caracteristicas praticas que marcam essas ocupa-coes altamente especializadas. Essas profissoes, entre outras, requerem um longo e comple-xo processo de formacao e se conformaram com a pratica do que se convencionou chamar de “ideal de servico”, ou seja, o compromisso de colocar os interesses dos clientes a frente dos proprios interesses. Competencia tecnica, honestidade, compromisso de falar a verdade estao entre essas caracteristicas que acabam sendo projetadas para as demais ocupacoes quando pensamos em nossas expectativas sobre como devem ser os profissionais que quere-mos contratar. O que conformava o profissionalismo nos seculos XIX e XX sofreu as inevitaveis mudan-cas resultantes das proprias transformacoes sociais e da forma como as profissoes se relacio-navam com o aparelho de Estado. No final do seculo XX, essas mudancas ja eram discutidas como sinais de que um processo de desprofissionalizacao estaria em curso. Na epoca, eu ja entendia esse processo como uma reprofissionalizacao, ou seja, uma transformacao nas bases do profissionalismo, com as mudancas nas relacoes economicas. Hoje, devemos nos pergun-tar nao apenas sobre quais sao os valores, regras e normas da profissao medica para o seculo XXI, mas tambem sobre o que fazemos, como docentes e cidadaos, para forma-los.Lamentavelmente, e cada vez mais frequente acompanharmos na midia nacional episo-dios em que ocorreram faltas lamentaveis de profissionalismo entre colegas. As mais recen-tes estiveram relacionadas a ausencia por motivo nao razoavel e nem justificavel a plantoes, sendo o caso de maior repercussao a ausencia de um neurocirurgiao a um plantao no Hos-pital Salgado Filho, no Rio de Janeiro. Ainda que o caso nao deva ser discutido sem conside-

Referência(s)