Virtuosa virtuose: A Interpretacao da Cancao Brasileira na Visao de Mario de Andrade
2004; University of Texas Press; Volume: 25; Issue: 2 Linguagem: Português
10.1353/lat.2004.0019
ISSN1536-0199
AutoresMaria Elisa Pereira, Dorotéa Machado Kerr,
Tópico(s)Cultural, Media, and Literary Studies
ResumoVirtuosa Virtuose:A Interpretação da Canção Brasileira na Visão de Mário de Andrade Maria Elisa Pereira (bio) and Dorotéa Machado Kerr (bio) Introdução Mário de Andrade (Mário Raul de Moraes Andrade, 1893-1945) está ligado tanto ao movimento modernista quanto ao nacionalismo das artes, e, mais especificamente, ao da música no Brasil. Em 1928, esse autor afirmou que as características da música nacional se encontrariam nas suas constâncias, que seriam as partes constitutivas e freqüentes das músicas populares/folclóricas: os ritmos, as melodias, a polifonia, a instrumentação e as formas brasileiras, enfocadas no seu Ensaio Sobre a Música Brasileira1 . Em nossa pesquisa2 , ao buscarmos estudar, analisar e compreender a importância da canção e do intérprete cantor no plano geral do nacionalismo para Mário de Andrade, deparamo-nos com uma grande variedade de problemas, ainda não suficientemente esclarecidos, que envolvem a produção intelectual e o ambiente social desse escritor. Uma das chaves possíveis para esse entendimento foi procurar em seus textos suas constâncias pessoais, ou seja, aquelas idéias, frases, argumentos e estruturas que firmou e reiterou, ano após ano, verificando suas continuidades e transformações, coerências e contradições. Mário de Andrade reconhecia essa sua idiossincrasia, de repetir argumentos, ou de "remoer lugares comuns", como dizia. Outra de suas particularidades, a obstinada defesa da junção entre a função social do artista e a busca do belo, Mário definiria, em 1938, com o neologismo do artefazer 3 . Revelou, assim, essas duas características, amalgamadas, neste trecho do Ensaio Sobre a Música Brasileira: É possível se concluir que neste Ensaio eu remoí lugares-comuns. Faz tempo que não me preocupo em ser novo. Todos os meus trabalhos jamais não foram vistos com visão exata porque toda a gente se esforça em ver em mim [End Page 216] um artista. Não sou. Minha obra desde "Paulicea Desvairada" é uma obra interessada, uma obra de ação4. Este artigo é parte do resultado de uma análise histórica de alguns textos de Mário de Andrade, relacionando-os entre si e com sua sociedade, buscando suas constâncias pessoais, tendo como fio condutor o canto e o cantor, elementos essenciais na construção da nação brasileira sonhada por ele. Mas o estudo sobre o canto nacional envolve também um outro tema sempre relevante, o da língua portuguesa falada no Brasil. A fala brasileira, como a chamava Mário, tem sido continuamente estudada e discutida em seus diversos aspectos, inclusive suscitando recentemente o projeto "Estação da Luz da Nossa Língua".5 Aqui apresentamos uma pequena parte deste percurso. Analisando os textos de Mário de Andrade à procura das suas constâncias pessoais, verificou-se que suas primeiras manifestações podem ser encontradas, singularmente, em algumas de suas obras póstumas. A Introdução à estética musical 6 , Dicionário musical brasileiro 7 e Gramatiquinha da fala brasileira 8 foram publicadas somente ao redor de 1990 sendo, portanto, desconhecidas pela maior parte dos seus contemporâneos. Nesses textos encontram-se sistematizadas as conceituações aceitas e ensinadas por Mário de Andrade para obra de arte, público, intérprete, canção e língua brasileira, que ajudam a compreender as noções presentes nas suas obras mais conhecidas, como o mencionado Ensaio e o Compêndio ou Pequena história da música, de 1929 9 . Cultura e canção nacionalista De acordo com Johann P. Arnason, o nacionalismo político apareceu como "um relacionamento especificamente moderno e de uma intimidade inédita entre cultura e poder"10 e a formação das nações teria sido "uma resposta à 'tríplice revolução'—na integração econômica, no controle administrativo e na coordenação cultural—que marca o advento da modernidade"11 . Cultura mostrou-se assim importante para o nacionalismo político como fator determinante para a justificação dos estados nacionais. E, ao mesmo tempo, o nacionalismo nas artes enfatizou as manifestações artísticas populares/folclóricas como...
Referência(s)