Artigo Revisado por pares

A Astronomia, a moderna Geologia, e a profissão de geólogo no Brasil

2009; Volume: 5; Linguagem: Português

ISSN

1980-4407

Autores

Os Editores,

Tópico(s)

Geography and Environmental Studies

Resumo

A oportunidade aberta pela promulgacao do Ano Internacional de Astronomia em 2009 expande para a geologia, e em particular para os especialistas dedicados a geologia planetaria, campos notaveis de evolucao e desenvolvimento conceitual. As sondas interplanetarias, os poderosos telescopios colocados em orbita da Terra e os incontaveis satelites de observacao trazem conhecimentos surpreendentes a cada semana. Fica cada vez mais evidente o fato de serem absolutamente singulares as condicoes para desenvolvimento de vida, no minusculo planeta que nos acolhe. Cada vez mais, tambem, dispomos de meios, fatos e argumentos que nos levam a reconhecer os impactos verdadeiramente devastadores da acao humana, tanto sobre ecossistemas antes intocados, porque remotos e demasiadamente afastados do acesso das pessoas, quanto naqueles dominios onde, desde tempos historicos, as populacoes vieram se concentrando. As acoes humanas e as construcoes a elas associadas continuam, pois, a provocar mudancas e alteracoes ambientais; sao metamorfoses que acontecem em paralelo ao crescimento da populacao humana na Terra e que se vinculam a uma vaga ideia de desenvolvimento a todo custo. Surgem alertas acerca da velocidade dessas transformacoes e da imperiosa necessidade de se rever as pressoes exercidas pelas sociedades, que continuam a demandar recursos energeticos, hidricos e materiais com voracidade cada vez maior. O Sistema Terra nao tem capacidade de suporte para arranjos lineares como esses, que desrespeitam limites. Sao sistemas notavelmente uniformes quanto ao carater predatorio, praticados tanto por industrias, governos ou aparatos militares, quanto pelas proprias sociedades, ja que o consumo tambem obedece a padroes pouco racionais que seguem devastando recursos de maneira implacavel e persistente. E absolutamente contraditorio manter o ritmo acelerado de crescimento atual. Onde esta a contradicao? A principal razao e serem ciclicos e, portanto, nao-lineares, os sistemas naturais que atuam na Terra desde seus primordios. Ainda que as forcas envolvidas sejam muitas vezes descomunais e nos assustem pela intensidade e velocidade com que se manifestam, os meios materiais e as quantidades de energia envolvidos sao igualmente limitados. A enfase atual repousa em alertas que emergem, de todos os lados e sob variadas formas, acerca das mudancas climaticas. Sao quase inaudiveis os alertas referentes ao ritmo de consumo de materiais, energia e espacos naturais. Surgem os chamados territorios “protegidos” pela acao humana... da propria acao humana. Algumas assertivas de grupos de cientistas, alimentados por bases de dados em constante atualizacao, merecem apreciacao critica ate mesmo diante do fato de que muitas vezes a historia geologica do planeta foi deixada de lado e nao vem nutrir os argumentos que fundamentam muitas declaracoes bem-intencionadas. A necessidade de maior debate, aprofundamento teorico e avaliacao conceitualmente rigorosa, sao apenas um aspecto demandado pela crescente conscientizacao das pessoas, profissionais e educadores. Terrae Didatica tem muita contribuicao a oferecer nesses campos, como veiculo de difusao de boas experiencias e praticas educacionais que possam ser testadas e replicadas. Formacao de geologos no Brasil: necessidade prioritaria A curta e conturbada historia dos cursos de Geologia no Brasil conduz a indagacoes sobre o que se espera desses profissionais no seculo XXI. Todos conhecemos as habilidades particulares que caracterizam os profissionais dedicados aos estudos da Terra. Capazes de construir modelos 3D a partir de dados fragmentados, encontrados, selecionados e classificados no campo. As necessidades de acerto e precisao muitas vezes obtida dessas habilidades profissionais fica encoberta – e muitas vezes e desapercebida – devido aos resultados obtidos de metodos analiticos geoquimicos e geofisicos que sao decisivos tanto na prospeccao, quanto na pesquisa e exploracao de recursos minerais e energeticos, agua subterrânea, ou na determinacao das mais variadas obras de engenharia. Conscientes dessas capacidades e da potencialidade nos perguntamos: por que ha tao poucos geologos do Brasil? Desde o periodo colonial, as elites portuguesas se propunham a criar uma Escola de Minas para formar os profissionais que contribuissem para dinamizar a mineracao. Idas e vindas, falta de continuidade, desmandos, etc. retardaram a criacao dessa escola e so foi fundada em 1876 em Ouro Preto (a Escola de Minas de Potosi e de 1730). Passado o periodo aureo do apoio do Imperio e da mao firme de Henry Gorceix, a Republica e os interesses limitados dos fazendeiros conduziram ao abandono da mineracao e da Escola de Minas de Ouro Preto. No inicio do seculo XX, depois de gerar uma elite capacitada para mineracao e siderurgia, a formacao em Geologia desaparecera. Dedadas mais tarde, a necessidade de profissionais gerada pela criacao da PETROBRAS foi acompanhada de um programa oficial destinado a formar geologos. As primeiras escolas receberam recursos oficiais para se modernizar, se equipar, ampliar seus quadros; os primeiros alunos receberam bolsas para se afastar de seu trabalho e poder se dedicar plenamente aos estudos. Um programa claramente destinado a formar geologos foi abandonado antes do final da decada de 1960 e as escolas, deixadas a seus proprios recursos. Passados 50 anos da campanha de formacao dos geologos, em 2005, 23 escolas estavam em funcionamento, antigas e novas dependentes apenas de seus proprios recursos. Nao devemos nos abster de comparar os parcos numeros nacionais com os EUA que, nesse mesmo ano, possuia quase tres centenas de cursos de graduacao em Geologia. Os desafios sociais, economicos e ambientais, bem como as necessidades de producao de riquezas fazem deste momento tao especial quanto o do final da decada de 1950. Hoje, geologos sao tremendamente importantes para a sociedade. Torna-se necessario um amplo programa de formacao que de especial suporte as novas escolas em termos materiais e de pessoal, bem como apoio as demandas de renovacao das escolas mais antigas. O volume de 2009 Resumir aspectos relevantes dos trabalhos contidos neste volume e pouco util, ja que nada substitui a leitura direta. Terrae Didatica conclui no volume 5 a publicacao de conferencias do I Simposio de Pesquisa em Ensino e Historia de Ciencias da Terra, e o III Simposio Nacional sobre Ensino de Geologia no Brasil, realizados em Campinas, em setembro de 2007. Em novembro realiza-se a segunda edicao desses mesmos eventos, desta vez nas dependencias do IGc-USP. Apresenta-se ainda a integra de conferencia feita no Simposio Historia, filosofia e divulgacao do conhecimento geologico realizado no 44o Congresso Brasileiro de Geologia, Curitiba (PR), 2008, que nao integrou os anais do evento. Destacamos, porem, que no artigo Educacao em Ciencia: Actividades Exteriores a Sala de Aula, os autores mostram que, apesar de existir consenso quanto ao papel da educacao para proporcionar inflexoes de curso no mundo moderno, os pontos de vista sao divergentes quando se avanca para a definicao da natureza das acoes, prioridades e politicas educativas. Os autores assinalam que, ali, no ambiente exterior a sala de aula, o contexto de incerteza e imprevisibilidade, inerente as Ciencias da Terra, pode criar condicoes para que os alunos entendam de que forma o conhecimento cientifico se desenvolve. Alias, esse e um desafio de fundo para todas as acoes educacionais: possibilitar que as pessoas em geral entendam que o conhecimento cientifico se desenvolve sob normas e condicoes bastante especificas e ate certo ponto muito rigidas.

Referência(s)