Artigo Acesso aberto Produção Nacional Revisado por pares

Avaliação diagnóstica de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade e risco social: transtorno de conduta, transtornos de comunicação ou "transtornos do ambiente"?

2009; UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO; Volume: 36; Issue: 5 Linguagem: Português

10.1590/s0101-60832009000500006

ISSN

1806-938X

Autores

Sandra Scivoletto, Luciene Stivanin, Simone Tozzini Ribeiro, Christian César Cândido de Oliveira,

Tópico(s)

Youth, Drugs, and Violence

Resumo

Ao se iniciar as avaliacoes diagnosticas e os atendimen-tos multidisciplinares de criancas e adolescentes em situacao de risco e vulnerabilidade social (dos quais, usuarios de drogas e vitimas de abuso fisico e sexual), atendidos pelo Programa Equilibrio, os profissionais envolvidos, dentre eles psiquiatras, pediatra, psicologos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, psicope-dagogos, fisioterapeuta, perceberam que uma serie de adaptacoes deveria ser feita para realizar a abordagem e a anamnese dessa populacao. As alteracoes de comportamento, com agressividade fisica e verbal, inumeras vezes, pareciam substituir o comportamento e a comunicacao socialmente estrutu-rados. Iniciar intervencoes psicoterapicas ou mesmo orientar criancas a nao gritarem e mostrar a elas que se consegue alcancar o respeito das pessoas quando se utiliza uma comunicacao e um comportamento menos agressivos, e praticamente impossivel se nao for feita uma sensibilizacao antes a essas criancas. No entanto, minimizar a funcao das ameacas e do gritar e um ledo en-gano. Essa forma de expressao nas ruas e fundamental e, inumeras vezes, esta relacionada a sobrevivencia e a uma importante possibilidade de expressao do sentimento de ser ignorado pela sociedade – e uma forma de ser visto e ouvido em suas necessidades e desejos. Tambem em abrigos, os episodios de agitacao psicomotora podem ser interpretados como manifestacoes claras da necessidade de atencao individualizada. Assim, tem-se de considerar que essa forma de comportamento e expressao, fisica e verbal, faz parte do processo de interacao dessas crian-cas com o mundo a sua volta e tem sua funcao.Imaginar que deixarao de serem agressivas ou que terao um comportamento “mais educado e adequado” e impossivel, pois esse e o comportamento esperado e adaptado ao ambiente agressivo em que se encontram. Querer que essas criancas abandonem a linguagem transmitida por suas familias e entorno social seria como apagar parte de suas historias. E inviavel o trabalho de prevencao, a promocao de saude ou a reabilitacao de algum transtorno fisico, psiquico, emocional ou fonoaudiologico, quando o meio onde essas criancas vivem nao valoriza e nao respeita os individuos que nao gritam ou nao sao agressivos. Assim, quando deixam as ruas e sao acolhidas em abrigos, o trabalho terapeutico multidisciplinar tem como objetivo inicial ajuda-las a se adaptarem a esse ambiente mais favoravel para seu desenvolvimento, um contexto menos agressivo e amea-cador, no qual podem parecer desajustadas inicialmente, levando a diagnosticos precipitados, como transtornos de conduta, transtornos de impulso, transtornos de desatencao e hiperatividade, que nao se mantem ao longo do tempo.Uma crianca que sai de casa aos 6 anos de idade e vive ate os 11 anos nas ruas de uma grande cidade esta adaptada para viver em um ambiente assim, mas podera ficar bastante inadequada em uma sala de aula. Na rua, ela desenvolveu recursos necessarios para sobreviver neste contexto: reage rapidamente, nao fica muito tempo parada em um mesmo local, e impulsiva e percebe alteracoes minimas no ambiente ao seu redor, especialmente se essas alteracoes repre-sentam ameacas. Se colocada em uma sala de aula,

Referência(s)