Auxilio luxuoso: Samba simbolo nacional, geracao Noel Rosa e industria cultural (review)
2004; University of Texas Press; Volume: 25; Issue: 2 Linguagem: Português
10.1353/lat.2004.0017
ISSN1536-0199
Autores Tópico(s)Arts and Performance Studies
ResumoReviewed by: Auxílio luxuoso: Samba símbolo nacional, geração Noel Rosa e indústria cultural Marcos Napolitano (bio) Wander Nunes Frota. Auxílio luxuoso: Samba símbolo nacional, geração Noel Rosa e indústria cultural. São Paulo: Anna Blume, 2003. O livro Auxílio Luxuoso: Samba símbolo nacional, geração Noel Rosa e indústria cultural foi, originalmente, apresentado como tese de doutorado defendida na Universidade de Minnesota em 2000, na área de Letras, pelo professor da Universidade Federal do Piauí, Wander Frota. Baseado, segundo o próprio autor, na teoria sociológica de Pierre Bourdieu, do qual utiliza os conceitos de campo cultural, instâncias de consagração e intelligentsia proletaróide (sic) para analisar os artistas com maior capital cultural que formataram a canção urbana brasileira. A tese central, reiterada ao longo de cinco capítulos, afirma que o samba como símbolo nacional brasileiro representou a consagração de uma estratégia de mercado da indústria do disco e do rádio, vistas pelo autor como instâncias sistêmicas e articuladas, cujos proprietários estavam de mãos dadas com o Estado. A confluência dos interesses mercantis daquelas com os interesses ideológicos deste, explica a aliança estratégica. Os artistas e o público foram agentes sociais subordinados neste processo, que se deu entre os anos 1920 e 1930. Frota afirma, sem sutilezas, que o samba como símbolo nacional não foi utilizado senão como um instrumento pelas elites (e também pelo próprio Estado) para apresentar um gênero musical como uma conquista social de alto valor e poder transformá-lo mais facilmente em uma vitória apenas da resistência afro-brasileira no cenário urbano do Rio de Janeiro. (167) Assim, conforme o autor, houve uma neutralização dos elementos étnicos "autênticos" do samba, cada vez mais assimilado por uma classe média branca e mestiça, base social dos criadores e consumidores do samba dos anos 1930. A "geração Noel Rosa", de talento reconhecido, deixou-se [End Page 259] seduzir pelo mercado e o samba, originalmente "negro, marginal e pobre", transformou-se em gênero musical símbolo do Brasil. A indústria cultural sediada no Rio de Janeiro, conforme Frota, já nos anos 1930 poderia enquadrar-se no paradigma teórico adorniano, dado o nível de articulação e controle dos processos de mercantilização da cultura e formatação do gosto massificado. Como desdobramento desta tese central, Wander Frota denuncia o que ele chama de "história semi-oficial da MPB" (32) que teria apagado este processo mercantil e ideológico que está na origem do samba, chancelando o gênero musical carioca como o mais representativo da brasilidade. Frota não delimita esta "historiografia semi-oficial" explicitamente, mas no decorrer das citações ao longo do livro, percebe-se que ela engloba jornalistas que primeiro definiram o samba nos anos 1930 (Orestes Barbosa e Francisco Guimarães), cronistas e críticos da MPB (Sérgio Cabral, João Máximo e Carlos Didier, entre outros), bem como alguns nomes ligados às ciências humanas (Hermano Vianna, Carlos Sandroni). Ou seja, para Frota, praticamente todos que escreveram sobre o samba concorreram para a mistificação do gênero e para o apagamento da sua bastardia originária, filho do casamento do mercado com o Estado. Conforme suas próprias palavras: Como não há, no atual cenário da crítica cultural acadêmica, praticamente nenhuma resistência a este comportamento oficioso da crítica musical dispersa nos meios de comunicação, a mais óbvia tendência sempre foi a de que seus princípios se consagrassem imediatamente—sem que fosse possível ou factível qualquer questionamento em torno da metodologia de seus termos. (12) No limite, sua argumentação culmina na tentativa de desqualificação da sigla "MPB", sem problematizá-la ou descontruí-la de forma mais complexa. Antes, limita a sua crítica às conhecidas ligações da MPB com o mercado fonográfico e à sua limitação geográfica, na medida em que foi tributária do samba, gênero...
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