Artigo Acesso aberto Revisado por pares

Arte e etnografia cokwe: antes e depois de Marie-Louise Bastin

2015; Centro em Rede de Investigação em Antropologia; Issue: vol. 19 (1) Linguagem: Português

10.4000/etnografica.3941

ISSN

2182-2891

Autores

Nuno Porto,

Tópico(s)

Cultural Identity and Heritage

Resumo

Este texto parte do recenseamento e debate sobre o contexto em que o trabalho empírico de Marie-Louise Bastin no Dundo (1956) e a publicação original de Art Décoratif Tshokwe (1961) ocorrem, e analisa as recorrências contemporâneas do contexto de produção de categorias de "arte africana" e o seu consumo como "arte nacional". O trabalho levado a cabo no Museu do Dundo desde 1936 permite inscrever a emergência da categoria de arte durante os anos 50 e 60 no contexto da promoção internacional da cultura material cokwe como "arte", em detrimento da sua classificação, até aí vigente, como "etnografia". Neste sentido, a promoção dos artefactos cokwe como "arte" está em relação com uma nova política de desenvolvimento do museu – que, entre outros fatores, motivara a cessação de funções de José Redinha como conservador (em 1959) – no quadro das transformações políticas na arena internacional. A análise deste processo, argumenta-se, revela-se útil a dois níveis: por um lado, para pensar relações entre o local e o global mediadas pela categoria de "arte"; por outro, na medida em que a categoria de "arte" constitui um fator de empoderamento de sujeitos ou populações, a análise de processos passados pode tornar-se um ponto de partida para compreender processos contemporâneos, tais como os que são analisados e debatidos a propósito da 1.ª Trienal de Luanda, como se propõe na segunda parte deste texto.

Referência(s)