DA PREVENÇÃO À PERÍCIA CRIMINAL
1969; Issue: 7 Linguagem: Português
10.36311/1983-2192.2011.v7n7.1679
ISSN1983-2192
AutoresSueli Andruccioli Félix, André Luís da Silva EIRAS,
Tópico(s)Youth, Drugs, and Violence
ResumoA tarefa de organizar uma Revista Científica contemplando reflexões sobre um problema tão antigo quanto instigante para as ciências e para as políticas públicas - a violência, o crime e as práticas de segurança - é sempre muito desafiador por concentrar, em um mesmo local, reflexões e práticas tão diversas, mas com um objetivo comum: melhorar a qualidade da vida humana. É dessa forma que chegamos à 7ª edição da Revista do Laboratório de Estudos da Violência e da Segurança – Revista Virtual LEVS, UNESP/Marília maio/2011), contemplando quatro eixos temáticos: "Segurança, Direitos e Justiça", "Violência Doméstica e Acidente Juvenil", "Políticas Públicas e Comunitárias" e"Percepções o Espaço e do Crime", além de mais dois trabalhos de pesquisa publicados na Seção Relatos de Pesquisa e Boas Práticas", outra preocupação do Conselho Editorial divulgação de pesquisas e de ações desenvolvidas nesta área. Com artigos aparentemente distintos entre si, mas passíveis de reflexão por todos os segmentos interessados na temática, é uma edição que aborda diversas formas de violência e em diferentes estágios: desde a prevenção à perícia. Pela sua multicausalidade, violência e criminalidade não podem ser compreendidas descontextualizadas da complexidade da vida humana e de sua história. A tradição judaico-cristã considera um fraticídio, o assassinato de Abel pelo seu irmão Caim, o primeiro ato criminoso da história da humanidade. A literatura é fértil na transposição de acontecimentos criminosos para o campo da idéias como as obras clássicas de Dostoiévski, Kafka, Machado de Assis e tantos outros. Um crime mirabolante é um recurso até de veículos de comunicação na tentativa de ncrementar a audiência dos programas de entretenimento, mas também dos programas diários de cunho jornalístico. Milton Santos (2002) descreve a forma como a globalização se insere nesse processo atual da informação, Não precisamos sair de casa para viajar pelo mundo. É só ligarmos a televisão e o mundo invade nossa intimidade e com ele todo tipo de experiências boas e más, fatos reais e fictícios, sensacionalismo extremado nas notícias, principalmente de violência. E, dessa forma, a realidade por mais cruel que seja, 3 quando tornada corriqueira, acaba sendo incorporada como algo normal e acabamos por conviver com ela. A espetacularização da violência pelos meios de comunicação não é objeto de estudo dessa edição, mas, em Confiança e Segurança Ontológica na Sociedade de Risco o autor resgata Bauman para tratar o medo, social e culturalmente (re)criado por"experiências e percepções do cotidiano que orientam o comportamento dos indivíduos, quer exista ou não uma ameaça imediatamente presente. [...] O medo secundário [...], caracterizado como um sentimento de vulnerabilidade ao perigo, ma sensação de suscetibilidade e insegurança". Mesmo não se referindo ao medo, real ou imaginário, superdimensionado pela mídia sensacionalista, motivo de observação e críticas acirradas dos próprios profissionais da imprensa e esquisadores diversos, encontramos neste artigo o medo de perigos criados "por nós mesmos" e "mais ameaçadores do que aqueles que vêm de fora". Como o risco ecológico, a catástrofe nuclear ou a derrocada da economia global, outros riscos estão mais ligados a nossa segurança íntima, como os medicamentos que tomamos, as dietas que fazemos ou os relacionamentos que desfrutamos. Em Disciplina, Controle Social e Educação Escolar: Um Breve Estudo à Luz do Pensamento de Michel Foucault , as autoras apresentam questões sobre a formação de uma sociedade disciplinar, especialmente no trato com a escola, e uma relação de controle. Embora as autoras trabalhem com a pesquisa bibliográfica, suas reflexões atingem uma compreensão dos mecanismos do poder disciplinar, levandonos a pensar em como "fazer escola" e, assim, provocar mudanças no modo operacional da educação. No eixo "Segurança, Direitos e Justiça" encontramos A Perícia Criminal no Brasil como Instância Legitimadora de Práticas Policiais Inquisitoriais , com uma importante discussão acerca da cultura policial e os seus métodos científicos. Os autores apresentam de que maneira as deficiências na padronização de procedimentos investigativos levam à perda de confiança da população em relação ao enfrentamento da realidade. Afinal, até onde é delineada a distância entre a realidade prática criminal e a ciência forense? De que maneira uma centralização de uma política é viável? Na temática da "Violência Doméstica e Acidente Juvenil" esta edição apresenta um artigo reflexivo sobre novas propostas de trabalhar o assunto de violência feminina no ensino superior, em especial no curso de Direito. Para os autores de Violência Contra a Mulher: Uma Temática Privilegiada para se Trabalhar no Ensino Superior, Mediante Artigos de Jornal existe um distanciamento entre a sala de aula e o cotidiano. O dogmatismo academicista, principalmente na área do Direito, é apontado como uma "trava" crítica para o problema. Trabalhar com fontes jornalísticas pode – e deve – suscitar nos alunos uma possibilidade de mudança de comportamento em relação à violência contra as mulheres, saindo do plano teórico para casos reais. Em Erotizadas e Punidas: A Representação das Mulheres em Cidade de Deus (2002), o filme em análise é utilizado para observar a representação das mulheres e um tipo de pensamento social sobre o protagonismo feminino. Há realmente uma falta desse protagonismo no cinema brasileiro? E quando essas mulheres são retratadas há, ainda, insistência em construir categorias rígidas como a erotização e a necessidade de punição? Tais indagações são analisadas a partir de cinco personagens do filme. Encontramos na seção "Relatos de Pesquisa e Boas Práticas" dois trabalhos distintos. No primeiro, Orientação Profissional - Universidade Ajuda os Jovens a Encontrar Caminhos Profissionais: Relato de Intervenção, os autores relatam o processo da Orientação Profissional para a escolha de um curso superior entre adolescentes pré-vestibulandos em Marília/SP. Essa pesquisa descreve os vários encontros na UNESP e os dilemas e conflitos de uma escolha profissional para a trajetória de vida destes estudantes. O século XXI dispõe de uma nova forma de construção de carreira que é, para muitos jovens, uma intensa dificuldade. A participação ativa da universidade no auxílio a este problema faz-se necessário como um serviço à comunidade. No segundo relato, Quando O "Dentro" se Mistura ao "Fora". Etnografia de Diego pelo "Mundo Da Prisão , encontramos a trajetória de um homem pelo sistema penal. Da construção de sua sociabilidade, passando pela progressão ao regime aberto até seu retorno à privação de liberdade, um percurso etnográfico faz-nos refletir o campo da sociologia da violência, especialmente a temática da reintegração social e da cultura prisional.
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