
“O povo não tem cultura! nós temos cultura porque...”: efeitos de uma dicotomia*
2013; UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO; Issue: 20 Linguagem: Português
10.20435/serie-estudos.v0i20.429
ISSN2318-1982
Autores Tópico(s)Cultural, Media, and Literary Studies
ResumoO trabalho e fruto da tese de doutorado, defendida na UNISINOS, Sao Leopoldo – RS, cujo orientador foi o professor doutor Lucio Kreutz. Tem como campo teorico os Estudos Culturais Pos-Estruturalistas, campo que problematiza a dicotomia alta e baixa cultura. Mesmo nao concordando com esta dicotomia, segundo este campo nao se pode deixar de levar em conta que ela continua presente, produzindo varios efeitos. Assim questiona-la, mostrando que produz um conjunto de efeitos nas identidades/diferencas, efeitos por meio dos quais a baixa cultura tende a ser vista como abjeta e inferior nao significa que nao deva ser mencionada e analisada, quando ela se constitui em uma marca central para determinados grupos. Esta analise, longe de ser uma legitimacao da dicotomia, procura fazer parte de um processo de desconstrucao. Alem disso, este campo afirma a centralidade da cultura, vista como um processo de atribuicao de sentido, atravessado pelas relacoes de poder no qual a linguagem, mais do que dizer como e a realidade, produz a realidade. A cultura e central nao porque e superior a outras dimensoes (economica, politica, sexual...), mas porque esta presente em tudo. Assim, com o intuito de compreender as representacoes de cultura que estudantes de Ensino Medio de uma escola particular da grande Porto Alegre sao levados a produzir e quais os efeitos destas representacoes para as identidades/diferencas e que se lancou mao de entrevistas, debates, observacoes e redacoes, por meio das quais foi possivel compreender que a dicotomia alta cultura x baixa cultura e uma marca central na representacao de cultura, produzindo varios efeitos tanto para os processos de identificacao quantode diferenciacao cultural. Os estudantes identificam-se como fazendo parte da alta cultura, sobretudo por estudarem em escolas particulares, por assistirem TV a cabo, por terem capacidade de consumir, por terem condicoes de fazer viagens, irem ao teatro, escutarem musicas “cultas” e por se “esforcarem” bastante e conseguirem aprovacao para uma universidade federal. Ja os outros, segundo eles (os outros para eles sao os pobres), pertencem a baixa cultura, porque estudam em escolas publicas, assistem TV aberta, nao tem condicoes de consumir, nao viajam, nao vao ao teatro, escutam musicas “bregas” e nao se esforcam, por isto, no maximo frequentarao uma universidade particular. Pode-se concluir que a dicotomia alta cultura x baixa cultura esta presente em todos os momentos da pesquisa e esta atravessada por uma questao economica, na qual o pobre, visto como sujeito sem cultura, passa a ser representado nao apenas como alguem sem condicoes materiais, mas como alguem que condensa todos os significados indesejaveis para os que se identificam como pertencentes a alta cultura.
Referência(s)