
O PODER SEM FACE: DE VOLTA À VELHA ANTINOMIA "ESTRUTURA" E "PRÁTICA"?
2003; UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ; Issue: 20 Linguagem: Português
ISSN
1678-9873
Autores Tópico(s)Brazilian cultural history and politics
ResumoQualquer pesquisador ou professor que se veja obrigado a enfrentar a tarefa de discutir o conceito de “poder” na teoria politica percebe muito rapidamente que o terreno e pantanoso. De saida, ele ver-se-a obrigado a conhecer uma multiplicidade de definicoes classicas e, em seguida, tomar conhecimento das inumeras “atualizacoes” conceituais e metodologicas que a literatura contemporânea sugere. Sera obrigado ainda a percorrer uma infinidade de campos disciplinares distintos, passando pela Filosofia, pela Sociologia, pela Ciencia Politica, pela Historia e, se quiser um pouco mais de diversao, ate mesmo pela literatura, lendo o ultimo epilogo de Guerra e paz ou a lenda do Grande Inquisidor em Os irmaos Karamazov. Ficara com a nitida sensacao de que os diversos autores nao falam sobre a mesma coisa; de que o que uns chamam de “poder”, outros chamam de “dominacao”, “potencia”, “influencia” ou “coercao”; percebera ainda que algumas definicoes sao extremamente rigorosas do ponto de vista metodologico, a ponto de viabilizarem a mensuracao desse fenomeno, mas, ao mesmo tempo, sao extremamente superficiais e timidas no seu alcance; outras, ao contrario, sugerem uma definicao mais abrangente, mas nunca sabemos exatamente como operacionaliza-las. Essa multiplicidade de definicoes parece estar vinculada, como ja sugeriram alguns autores, ao carater essencialmente normativo do conceito: tantas “versoes” do poder correspondem, na verdade, a multiplicidade de projetos politicos que os diferentes autores defendem 1. O livro de Clarissa Rile Hayward pretende ser mais um capitulo nesse enredo sem fim. O trabalho da autora tem como objeto empirico de analise duas comunidades escolares, uma composta por alunos oriundos de camadas populares, em especial afro-americanos, outra situada num suburbio de classe alta. O objetivo e estudar as relacoes de poder nessas duas comunidades. Para tanto, a autora divide o seu livro em seis capitulos. O primeiro, na verdade uma introducao, apresenta os objetivos gerais do livro e antecipa algumas discussoes teoricas que aprofundara no capitulo seguinte. O terceiro capitulo dedica-se a discutir a literatura critica sobre a relacao entre pedagogia e poder. Nos capitulos quarto e quinto encontramos as analises empiricas, essencialmente etnograficas, acerca das relacoes de poder nas duas escolas e, por fim, o sexto capitulo apresenta uma conclusao de carater teorico em que a autora reforca as suas criticas a forma tradicional de se discutir o problema do poder. O livro contem ainda apendices metodologicos com interessantes comentarios sobre a observacao participante, metodo amplamente empregado por Hayward para abordar o seu objeto de estudo.
Referência(s)