
Uma breve história da química Brasileira
2011; Brazilian Society for the Advancement of Science; Volume: 63; Issue: 1 Linguagem: Português
10.21800/s0009-67252011000100015
ISSN2317-6660
AutoresMárcia Rodrigues de Almeida, Ângelo C. Pinto,
Tópico(s)Environmental Sustainability and Education
Resumoa melhor e, ainda, a mais completa descricao da historia da quimica no Brasil e o capitulo escrito por Heinrich Rheinboldt para o livro As ciencias no Brasil, organizado por Fernando de Azevedo (1). Esta historia ganha um novo impulso com o livro A industria quimica e o desenvolvimento do Brasil 1500‐1889, publicado em 1996, por Ernesto Carrara Ju‐ nior e Helio Meirelles, o qual completa uma lacuna que faltava na historia da quimica brasileira (2). Este texto deve ser visto como um ensaio, por nao ter a profundi‐ dade de um artigo academico, como merece a historia da quimica no Brasil. Resume um conjunto de fatos e de marcos historicos, numa otica muito pessoal dos autores, que enxer‐ gam a quimica num contexto mais amplo, nao se limitando apenas a ciencia e a industria quimica. Nao e a visao de um historiador profissional que se dedica a entender as origens da quimica. Os autores pertencem a corrente daqueles que acreditam que a quimica nasce com a elaboracao e transmissao de conhecimentos praticos, cujas origens remontam ao dominio do fogo, a confeccao de artefatos de cerâmica e aos primeiros processos de tinturaria e de fermentacao. Por este ângulo, pode‐se afirmar que a primeira descricao da quimica no Brasil foi feita por Pero Vaz de Caminha na carta que enviou ao rei Dom Manuel para dar noticia da nova terra encontrada. Na carta, con‐ siderada por muitos como a “certidao de nascimento do Brasil”, o escrivao da frota de Pedro Alvares Cabral revela todo o seu espanto com as cores vivas ornamentais dos seus habitantes. Impressionou‐o o vermelho e a tinta negro‐azulada com as quais os indigenas esta‐ vam pintados. Isso da uma amostra do dominio dos processos de extracao de corantes naturais e do tingimento corporal que tinham os habitantes do Novo Mundo. Eles sabiam como extrair o corante vermelho do urucum, a Bixa orellana, e a seiva dos frutos da arvore Genipa americana, de nome genipapo, que ao reagir com a pele, pro‐ duz uma coloracao negro‐azulada (3) e com os quais e produzido um licor muito apreciado, ate os dias de hoje, em todo o Brasil. Da descoberta da nova terra ate o seculo XIX, pode‐se afirmar que os unicos fatos relacionados a ciencia foram protagonizados pelos cronistas que se ocuparam da descricao das virtudes das plantas medicinais da flora nativa, e de elogiarem os ares saudaveis e o clima da Terra de Santa Cruz, depois chamada de Brasil. Algumas plantas medicinais brasileiras dos indigenas, descritas pelos cronistas, enriqueceram as farmacopeias europeias. O seculo XIX foi marcado pela presenca de grandes expedicoes e cientistas estrangeiros que vieram para coletar amostras dos tres reinos da natureza, para enriquecer as colecoes dos museus europeus. O marasmo cientifico de Portugal imposto pela forca da igreja, liderada, principalmente, pela ordem dos jesuitas, que fizeram da censura o instrumento de controle das publicacoes cientificas na metropole e, em consequencia, em todas as suas colonias ultrama‐ rinas, perdurou ate a reforma feita por Sebastiao Jose de Carvalho e Melo (1699‐1782), Conde de Oeiras e, depois Marques de Pombal, o primeiro‐ministro de D. Jose I. Um dos principais baluartes dos jesuitas, a Universidade de Evora, foi extinta em 1759, e a Reforma Pombalina, de 1772, levou a criacao, na Universidade de Coimbra, das Faculdades de Matematica e de Filosofia Natural (ciencias), e a reforma dos estudos de medicina. Novos estabelecimentos cien‐ tificos se fizeram necessarios, originando a construcao de novos edificios destinados ao Laboratorio Quimico, ao Observatorio Astronomico, a Imprensa da Universidade e a instalacao do nucleo inicial do Jardim Botânico (4). Antes da Reforma Pombalina, no Brasil, assim como em Portugal, a ciencia nao “existia”, diferentemente do que acontecia em outros paises da Europa. As unicas discussoes cientificas ocorriam em algumas poucas academias e sociedades cienti‐ ficas, todas de vida muito efemera. No Rio de Janeiro, por exemplo, foi criada, em 1786, a Sociedade Literaria do Rio de Janeiro, que fun‐ cionou regularmente ate 1790, e que se ocupou da discussao de temas cientificos, como o meto‐ do para extracao da tinta do urucum e a analise de aguas, para citar apenas dois assuntos relacio‐ nados diretamente com a quimica, discutidos pelos socios academicos (5). Apesar de a producao de acucar de cana nos engenhos brasileiros ter comecado na Bahia apos 1550, se estendendo depois para os estados de Alagoas e Pernambuco, e a industria extrativista da mineracao ter se iniciado a partir do seculo XVIII, atividades relacionadas a quimica eram praticamente inexistentes.
Referência(s)