Editorial Acesso aberto Produção Nacional Revisado por pares

Farmacogenômica e a diversidade genética da população brasileira

2009; Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz; Volume: 25; Issue: 8 Linguagem: Português

10.1590/s0102-311x2009000800001

ISSN

1678-4464

Autores

Guilherme Suarez‐Kurtz,

Tópico(s)

Biotechnology and Related Fields

Resumo

A população brasileira é uma das mais heterogêneas do mundo, em conseqüência de cinco séculos de miscigenação entre três raízes ancestrais: os ameríndios autóctones, os europeus e os africanos subsaarianos.Essa heterogeneidade e miscigenação têm implicações importantes no desenho e interpretação de ensaios clínicos farmacogenéticos, na implementação dos princípios de farmacogenética/farmacogenômica (FGx), na prescrição de medicamentos e, ainda, em relação à extrapolação de dados farmacogenéticos obtidos em outras populações.O paradigma populacional em FGx emerge da observação de que a freqüência de inúmeros polimorfismos em "farmacogenes" varia amplamente entre as populações.Um exemplo extremo disso ocorre no gene CYP3A5 que codifica a enzima CYP3A5, importante via de eliminação de diversos medicamentos de uso clínico, tais como os imunossupressores tacrolimus e ciclosporina.A freqüência do alelo variante CYP3A5*3, que codifica uma isoforma inativa de CYP3A5, é < 10% entre as populações subsaarianas e > 90% entre europeus.No entanto, a freqüência do alelo CYP3A5*3 em brasileiros sadios vivendo no Rio de Janeiro e que se autoclassificaram como brancos ou pretos (conforme o critério oficial do censo brasileiro) foi de 78% e 32%, respectivamente (Pharmacogenomics 2007; 8:1299-306).Ou seja, o alelo CYP3A5*3 é três vezes mais freqüente entre brasileiros autodeclarados pretos (32%) do que nos africanos (< 10%), e ocorre com menor freqüência em brasileiros autodeclarados brancos (78%) do que nos europeus (> 95%).A miscigenação de nossa população pode explicar essas discrepâncias, pois, independentemente da autodeclaração por "cor/raça" (na terminologia do censo brasileiro), a maioria dos brasileiros tem ancestralidade européia e africana, às quais se soma, em um número significativo de indivíduos, a ancestralidade ameríndia (Pharmacogenomics in Admixed Populations.Landes Bioscience; 2007).É razoável pensar que a contribuição da ancestralidade européia nos indivíduos autodeclarados pretos explique a maior freqüência do alelo CYP3A5*3 neste grupo, em relação aos africanos; da mesma forma, a presença de ancestralidade africana explicaria a menor freqüência de CYP3A5*3 nos autodeclarados brancos, comparados aos europeus.A situação exemplificada pelo alelo CYP3A5*3 foi observada com

Referência(s)