Artigo Revisado por pares

Artigo: O campo econômico

2005; UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA; Volume: 4; Issue: 6 Linguagem: Português

ISSN

2175-7984

Autores

Pierre Bourdieu,

Tópico(s)

Social and Economic Solidarity

Resumo

Com base em pesquisas desenvolvidas a respeito da economia da casa propria, trata-se de construir uma teoria economica que respeite mais a logica pratica dos agentes, integrando as condicoes economicas e sociais da genese das disposicoes economicas. Isto implica conceber o “mercado”, tal como frequentemente pressuposto pela ortodoxia economica, como o produto de uma construcao social. O campo economico e um universo regido por leis especificas, resultando de um processo de diferenciacao historico, entre as quais se destaca em primeiro lugar a busca do interesse propriamente material. Contrariamente ao que implica uma visao mecanicista, os agentes economicos criam o campo como campo de forcas, ao deformar em graus variaveis sua vizinhanca, como na fisica einsteiniana. O principio das acoes economicas e as margens de liberdade dos agentes devem ser procuradas – conforme os ensinamentos da tradicao de Harvard – na estrutura do campo, isto e, na estrutura da distribuicao dos diferentes capitais e nas relacoes de forcas correspondentes, que nao se reduzem nem a interacoes nem a ajustes mecânicos. O campo economico e um campo de lutas, onde os precos sao alvos e armas no quadro das estrategias das empresas (explicitadas pelas teorias de administracao), que dependem da estrutura do campo e, em particular, das relacoes de dominacao que o caracterizam. O capital tecnologico desempenha um papel importante na subversao das hierarquias estabelecidas, notadamente ao levar a redefinicao das fronteiras entre os campos. Mas as proprias empresas sao o lugar de lutas que contribuem para a determinacao de suas estrategias, estas dependendo ao mesmo tempo da estrutura da distribuicao do capital entre os dirigentes e da posicao da empresa no campo. As estrategias de uma empresa dependem tambem estreitamente das relacoes de homologia que se estabelecem entre sua posicao no campo de producao e a de seus clientes no espaco social, o que faz da competicao economica um conflito destrutivo, mas indireto. A nocao de habitus permite substituir a construcao escolastica que e o homo oeconomicus por uma concepcao realista da pratica economica: ela e o produto de antecipacoes razoaveis baseadas sobre a relacao obscura entre disposicoes e um campo. Este ajustamento pratico faz da teoria “neoclassica” uma ilusao bem fundada, que encontra uma validacao suplementar na forca social atribuida a este discurso. Ao fornecer as teorias economicas um fundamento antropologico que outorga um lugar central a genese social das disposicoes, como a racionalidade economica, contribui-se para devolver a economia a sua verdade de ciencia historica.

Referência(s)