Artigo Produção Nacional

Influência do consumo de ração hiperlipídica restrita em magnésio na adiposidade e na histologia do tecido adiposo branco de ratos

2015; Volume: 13; Issue: 1 Linguagem: Português

ISSN

2596-1306

Autores

Pryscila D. S. Teixeira, Alexandre Rodrigues Lobo, A. L. C. C. Sales, Eduardo De Carli, Rosa Maria Rodrigues Pereira, Liliam Takayama, Lottenberg Sa, Célia Colli,

Tópico(s)

Nutrition and Health in Aging

Resumo

Introducao: O tecido adiposo do individuo obeso e caracterizado pela hipertrofia e hiperplasia do adipocito, alteracoes responsaveis pela expansao do tecido. A hipertrofia antecede a hiperplasia e acontece para atender a necessidade de armazenamento de gordura adicional da dieta [1,2]. Estas alteracoes sao seguidas pelo aumento da angiogenese, pela infiltracao de celulas do sistema imunologico, pela producao elevada de matriz extracelular e pelo aumento de citocinas pro-inflamatorias durante a progressao da inflamacao cronica [3,4]. A expansao do tecido adiposo em individuos obesos, principalmente o visceral, tambem esta associada a um quadro inflamatorio cronico subclinico [5,6]. Sabe-se que um padrao alimentar caracterizado pelo consumo elevado de lipidios (com predominio de lipidios saturados) e de carboidratos simples, associado ao consumo reduzido de fibras alimentares, de compostos bioativos e de micronutrientes, pode levar, fundamentalmente, a alteracoes no peso corporal [7]. Nesse aspecto tem sido sugerido que o sobrepeso e a obesidade tambem sejam decorrentes de inadequacoes alimentares em longo prazo, nao apenas associadas ao excesso, mas tambem as deficiencias nutricionais [8,9]. A avaliacao do consumo alimentar de populacoes tem demonstrado, que individuos com excesso de peso apresentam baixo consumo de magnesio (Mg) [10,11,12]. Neste contexto, alteracoes no status de Mg, como resultado da inadequacao dietetica do mineral, vem sendo associadas com alteracao de indicadores de estresse oxidativo e de inflamacao [13,14,15]. Desta forma, a hipotese aventada no presente trabalho e de que o consumo excessivo de lipidios resulta na expansao do tecido adiposo e promove a instalacao de quadro inflamatorio neste, agravado quando ha associacao de restricao dietetica de Mg. Material e metodos: O projeto foi aprovado pela Comissao de Etica no Uso de Animais da FCF/USP (Protocolo CEUA no 371). Ratos (Rattus novergicus, var. albinus) machos, pesando entre 180- 200g, da linhagem Wistar Hannover, provenientes do Bioterio de Producao e Experimentacao da Faculdade de Ciencias Farmaceuticas e do Instituto de Quimica da USP, foram mantidos em gaiolas semimetabolicas individuais, de aco inoxidavel, em ambiente com temperatura e umidade controladas (22°C; 55%, respectivamente), com ciclos de claro/escuro de 12 h. Racoes experimentais, semipurificadas e peletizadas, baseadas na formulacao descrita pela empresa Harlan Teklab Laboratories (Madison, WI, EUA) para ratos em crescimento, foram adquiridas por importacao e acondicionadas em câmara fria (~4°C). As racoes do grupo controle (CON) foram elaboradas com 7% de calorias provenientes de lipideos (oleo de soja). As racoes hiperlipidicas foram elaboradas com 30 g/kg de lipideos na forma de oleo de soja, suplementada com 310 g/kg na forma de banha (aproximadamente 60% de calorias provenientes de lipideos), uma com concentracao adequada de Mg (500 mg de Mg/Kg de racao) e outra com restricao de 70% de Mg (150 mg de Mg/ Kg de racao). Apos sete dias de adaptacao, os animais foram distribuidos em tres grupos experimentais (CON, HF [adequado em Mg] e HF[Mg-] [restrito em Mg]). Racao e agua (desmineralizada) foram oferecidas ad libitum. Apos nove dias de experimento, os animais do grupo controle passaram a receber a racao ad libitum (CON) ou pareada (PF) pelo consumo medio (em gramas) animais dos grupos hiperlipidicos. O consumo foi registrado e calculado diariamente considerando a oferta e a sobra de racao; o peso corporal foi verificado e registrado a cada dois dias. Aos 60 dias de experimento os animais foram submetidos a eutanasia apos anestesia por injecao intraperitoneal com solucao de anestesicos (xilazina, 25 mg/kg; quetamina, 10 mg/kg; 1:2). Os animais foram necropsiados para exame macroscopico de orgaos. Fragmentos do tecido adiposo epididimal e retroperitoneal foram coletados e fixados em solucao tamponada de formalina 10%. Apos fixacao de 24 h, os fragmentos foram processados segundo tecnica padrao e incluidos em parafina. Os blocos de parafina foram seccionados em cortes de 15 μm. O exame histologico das lâminas foi realizado em microscopia de luz, utilizando microscopio optico (Zeiss, modelo Primo Star, Thornwood, EUA). As imagens digitais foram adquiridas com microscopio Eclipse Ni-U (Nikon, Japao) acoplado a câmara digital refrigerada DS-U3 (Nikon, Japao) e software NIS-elements para captura de imagens. Os cortes histologicos das regioes epididimal e retroperitoneal foram analisados quanto a presenca de processo inflamatorio, a intensidade deste processo e o tipo celular predominante envolvido; tambem quanto a presenca de estruturas crown-like, adipocitos multivacuolizados e alteracoes circulatorias. A intensidade das alteracoes histopatologicas foi avaliada semiquantitativamente na escala de 0 a 3, onde: 0 = parâmetro tido como dentro da normalidade, 1 = alteracoes minimas, 2 = alteracoes em grau moderado e 3 = alteracoes em grau marcante. O tamanho do adipocito (volume e area) foi medido com o emprego do recurso de contagem do software Image J (National Institute of Health, Maryland, USA), apos decalque das celulas e remocao do fundo. Resultados: Apos o dia nove de experimento, os grupos controle e os dois grupos hiperlipidicos apresentaram diferencas no consumo de racao; por este motivo, foi criado um grupo controle pareado, de modo que o consumo de racao entre os grupos pudesse ser comparado. Ao final do experimento foi observado maior ganho de peso dos animais dos grupos hiperlipidicos quando comparados ao grupo PF sem, contudo, existir diferencas entre si (grupos HF e HF[Mg-]). Como esperado, o grupo HF[Mg-] teve menor ingestao de Mg em relacao a todos os grupos, sendo que o consumo de Mg do grupo HF foi semelhante ao do PF. Observou-se maior numero (por campo de 900μ2) e menor area de adipocitos no tecido adiposo dos animais do grupo controle em relacao aos dos grupos hiperlipidicos. Estes resultados foram confirmados pelo maior diâmetro de Feret (grupos HF), medida definida como a distância entre duas linhas tangenciais paralelas e usada para avaliar projecoes de um objeto tridimensional sobre um plano bidimensional, estimando o volume da celula. O exame histopatologico do tecido adiposo revelou focos de esteatite com predominio de macrofagos e de celulas adiposas com citoplasma multivacuolizado nos grupos HF, independente da restricao de Mg. Conclusao: O consumo de dieta hiperlipidica nas condicoes experimentais testadas foi suficiente para promover expansao do tecido adiposo, secundaria a hipertrofia do adipocito, independentemente da restricao dietetica de Mg. Entretanto, esta alteracao nao foi acompanhada por processo inflamatorio evidente. Nas condicoes experimentais deste estudo a restricao de Mg nao agravou as alteracoes observadas.

Referência(s)