Editorial Acesso aberto Produção Nacional Revisado por pares

Editorial: apresentação do dossiê Culturas Digitais e Educação

2014; Programa de Pós-graduação em Geografia (PPGEO); Volume: 14; Issue: 2 Linguagem: Português

10.29276/redapeci.2014.14.23251.281-283

ISSN

2176-171X

Autores

José Mário Aleluia Oliveira,

Tópico(s)

Education and Digital Technologies

Resumo

Conceitos associados às culturas digitais, grafadas propositadamente no plural para politicamente demarcar uma das sua mais potentes características: operar na diversidade, no diverso, no múltiplo. Entretanto, mesmo por sua característica potente, também encontra força e ressonância no individual, no recorrente, no homogêneo. Posso, assim, afirmar sem medos desnecessários, que as culturas digitais escorregam às buscas por defini-las, por reduzi-las, por enquadrá-las, por didatizá-las. Quando associadas à educação, os atores sociais carregam sentidos desde salvacionistas a até aterrorizantes, ambos igualmente recorrentes. Ao mesmo tempo, professores e professoras cada vez mais convivem em seus trabalhos diários, quase em sua totalidade, com os que nasceram neste século e que já vieram ao mundo social em meio às possibilidades de produção, armazenamentos e socializações de informações e conhecimentos nunca sentidos e vividos por outra geração. Já nasceram usuários e não apenas espectadores/telespectadores. Desconhecem muitos dos dispositivos sociotécnicos analógicos e são familiarizados com os digitais, onde precisam necessariamente agir em seus meios. São contemporâneos das culturas da participação e da convergência. Neste cenário, múltiplas linguagens, espaços, tempos e dispositivos sociotécnicos digitais passaram a compor o cotidiano de crianças e adolescentes em idade escolar e compondo um espaço privilegiado de produção de subjetividades, acesso à informação, socialização de conhecimentos, desejos, sonhos, educações, aprendizagens. Em meio a tais espaços de socializações, aprendem, se constroem, se reconstroem. Em seu último livro denominado “Polegarzinha” lançado em 2012 na França, e também no Brasil em 2013, Michel Serres apresenta interessantes análises dos adolescentes que com os polegares enviam mensagens SMS em aparelhos digitais móveis – celular, smartphone, tablet –; se comunicam, se relacionam, acessam informações diversas, brincam, produzem textos, imagens e vídeos em redes sociais digitais. Para Michel Serres, a polegarzinha e o polegarzinho culturalmente não têm mais nada a ver com seus antepassados: não tem mais a mesma cabeça, estão muito mais aptos a manipularem várias informações ao mesmo tempo, pois se acostumam a abrir múltiplas janelas em aparelhos digitais, acessam conhecimento em quase qualquer local e o compartilham com pessoas em espaços e tempos diferentes. Desta forma, interessante nos perguntarmos como a polegarzinha e o polegarzinho se sentem e se relacionam com a escola que oferecemos e que muito pouco tem a ver com as transformações tecnológicas, sociais, culturais, políticas e, sobretudo, de acesso, produção e socialização de conhecimentos no mundo contemporâneo. Ou seja, a escola e seus processos pedagógicos são de momento histórico que a polegarzinha e o polegarzinho não são mais, foram produzidos para sociedades em que o acesso a informação era difícil e que produzir e socializar conhecimentos eram para poucos. A polegarzinha e o polegarzinho sabem que o conhecimento dos professores, antes guardados a chaves de laborioso alcance, hoje se encontram disponíveis online, acessível de qualquer local, possível de ser compartilhado e reelaborado pelos polegares dos jovens, disponíveis em sua maioria com não mais equívocos que as antigas enciclopédias e livros didáticos e muitas vezes documentado e explicado em múltiplas linguagens. No fundo, conscientes ou não, esses jovens ao mostrarem desinteresses pelas escolas transmissoras de conhecimentos, conteudistas, que primam em seus processos pedagógicos pela memorização, padronização e universalização, ao tagarelarem enquanto professores discursam, estão apontando a todos que o saber magistral, tal qual inventado nos últimos séculos, não funciona nem com eles, nem com as sociedades que eles estão reinventando. Talvez estejam nos informando que o mundo mudou, que os processos pedagógicos e as escolas precisam mudar radicalmente. Precisamos assumir que a escola universalizada no século passado não tem mais sentido hoje, pois como Serres nos alerta estamos iniciando uma nova era que assistirá a vitória da multidão anônima sobre as elites e que a polegarzinha e o polegarzinho não habitam mais o mesmo tempo, não têm mais a mesma cabeça, não habitam mais o mesmo espaço; que a cognição deles mudou. Prefiramos, assim, uma cabeça bem-construída a um saber acumulado como Montaigne e Michel Serres nos provocam, pois o saber acumulado já está disponível, documentado, explicado nas redes digitais online e nos livros impressos. Este Dossiê é composto por nove artigos que de diferentes formas e referências tecem alguns fios das inúmeras tramas construídas cotidianamente por meio das culturas digitais no mundo contemporâneo. Causas, efeitos, imprevisibilidades, controles, processos, educações, aprendizagens, descentramentos, entre outros, movimentam conceitos associados às culturas digitais e educação. É uma oportunidade para o diálogo com os autores e teorias que compõem essa obra; expressa em diversidades e diferenças. Convido a todos a ler aos artigos e dialogar conosco.

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