Mulheres e agroecologia : a construção de novos sujeitos políticos na agricultura familiar
2009; Associação Brasileira de Agroecologia; Volume: 4; Issue: 3 Linguagem: Português
ISSN
1980-9735
Autores Tópico(s)Rural and Ethnic Education
ResumoEsta tese analisa trajetorias de vida de mulheres agricultoras que participam ativamente de movimentos agroecologicos formados no Brasil nos ultimos trinta anos. Sao mulheres camponesas, agricultoras familiares, trabalhadoras rurais, que, em meio aos movimentos sociais da agricultura familiar identificados com a agroecologia e organizados em torno de uma rede social, a Articulacao Nacional de Agroecologia (ANA), vem se mobilizando, atraves de grupos, articulacoes, campanhas, experiencias produtivas e de comercializacao, para fazer aparecer o ponto de vista das mulheres nessa area. O objetivo geral da pesquisa foi evidenciar como, atraves das suas praticas sociais e, portanto, dos seus discursos, essas mulheres, que estavam se destacando na discussao da agroecologia dentro da ANA, vinham obtendo legitimidade para as suas reivindicacoes, disputando, com outras forcas politicas, espaco para o reconhecimento da existencia de pontos de vista proprios das mulheres sobre os temas da gestao ambiental e do desenvolvimento sustentavel; constituindo-se, portanto, como novos sujeitos politicos. De que forma esses sujeitos foram sendo construidos, quais as suas caracteristicas, e qual seu significado para a construcao de propostas estrategicas para a agricultura familiar e para o desenvolvimento sustentavel, sao tambem temas da pesquisa. Sao utilizados como referenciais teoricos os Estudos Feministas, e particularmente o Ecofeminismo, os estudos de trajetorias de vida e as teorias de analise de redes sociais. Na conclusao e mostrada a relevância da pesquisa realizada, tanto em termos teoricos como metodologicos. Combinando a analise das narrativas de historias de vida das liderancas com as trajetorias dos coletivos em que elas estavam inseridas, tendo como pano de fundo a construcao dos movimentos agroecologicos no Brasil, foi possivel evidenciar elementos fundamentais para se entender como vem se dando a construcao desses sujeitos politicos. Essas mulheres, apesar das suas distintas origens e prioridades, vem construindo identidades comuns enquanto agricultoras e militantes dos movimentos de mulheres, que tem como base o seu engajamento em acoes questionadoras das desigualdades de genero no meio rural e do modelo produtivo destruidor do ambiente. Sendo agricultoras familiares, estao submersas em realidades opressivas desde o interior das familias, vivendo as contradicoes de buscar questionar aquele modelo produtivo e de organizacao familiar, ao mesmo tempo em que lutam tambem para a sua reproducao – exatamente porque o consideram o mais justo e adequado para um desenvolvimento rural equilibrado e equitativo. Suas trajetorias mostram como um movimento de transformacao social se alimenta de continuidades e rupturas, e como as pessoas conseguem lidar, a partir das suas experiencias e valores, com essas contradicoes. A pesquisa mostra ainda que, sem as contribuicoes trazidas pelas vertentes construtivistas do ecofeminismo, nao e possivel entender os entraves colocados para a plena participacao dessas mulheres na luta politica, assim como as motivacoes e os caminhos que as levam a construir sua militância feminista e ambientalista de modo buscar a superacao desses entraves. De forma semelhante a muitas feministas que as precederam – ainda que nao se assumam necessariamente como tal – elas partem do questionamento de suas condicoes estruturais (acesso a meios de sobrevivencia) para interpretar e “desmontar” ideologicamente o sistema que as oprime, inclusive quanto a construcao das subjetividades, que e fundamental para entender o papel de homens e mulheres nas suas relacoes com o meio natural. Elas estao se organizando para propor transformacao desse sistema, projetando ideais e utopias a serem construidos por intermedio de acoes politicas coletivas. Nao se colocam como vitimas do sistema, nem como salvadoras do planeta; sao mulheres agricultoras lutando por seu direito de serem sujeitos plenos de suas vidas, e contribuindo, a sua maneira, para a transformacao do mundo injusto em que vivem.
Referência(s)