Artigo Produção Nacional

Sistemas agroflorestais no contexto do processo da transição agroecológica

2007; Associação Brasileira de Agroecologia; Volume: 2; Issue: 2 Linguagem: Português

ISSN

1980-9735

Autores

S. G. A. de Sousa, E. V. Wandelli, R. Perin, Joanne Régis Costa, Fabio Lozano Useche,

Tópico(s)

Agriculture and Rural Development Research

Resumo

Os sistemas agroflorestais sao experiencias locais que podem validar os principios e enriquecer a propria concepcao teorica de agroecologia. O resgate destas praticas tradicionais baseada na agrobiodiversidade, aliado ao conhecimento cientifico estao sendo sistematizados para apoiar o processo de transicao agroecologica. Foram implantados e avaliados quatro arranjos agroflorestais, em tres condicoes de areas de pastagens abandonadas, no Campo Experimental da Embrapa Amazonia Ocidental. Nestes sistemas foram manejadas culturas anuais, frutiferas, pastagens e especies florestais. Os arranjos estudados, alem de resgatarem uma pratica tradicional da populacao amazonica, demonstraram ser produtivos, capazes de gerar renda, seguranca alimentar e prestarem importantes servicos ambientais. ABSTRACT Agroforestry systems are experiences that can validate the principles and enrich the own theoretical conception of agroecology. The rescue of those traditional practices based on agrobiodiversity, allied to the scientific knowledge is being systematized to support the agroecological transition process. They were implanted and evaluated four agroforestry systems arrangements in three conditions of abandoned pastures areas, in the Research Station of Embrapa Western Amazon. In these systems were managed annual and fruiters cultures, pastures and forest species. The arrangements studied, besides rescuing a traditional practice of the Amazon population, demonstrated being productive, able of generate income, feed safety and provide important environmental services. Palavras – chave: Amazonia, agrofloresta, agroecologia Key-words: Amazon, agroforestry, agroecology INTRODUCAO Na Amazonia, praticas tradicionais baseada nos principios de agriculturas de base ecologicas, que se perderam com a “Revolucao Verde”, estao sendo resgatadas e sistematizadas para apoiar o processo de transicao agroecologica. E o caso dos sistemas agroflorestais, das populacoes tradicionais da Amazonia, caracterizados pela alta diversidade de especies nativas, semi-domesticadas e domesticadas e manejados em agroecossistemas com maiores niveis de sustentabilidade socioambiental. O resgate dos principios ecologicos de tais sistemas, aliado ao conhecimento cientifico e tradicional das principais especies agronomicas cultivadas na Amazonia, estao servindo de base para a sistematizacao de arranjos, praticas e manejos agroflorestais pela pesquisa institucional. Este trabalho comecou com iniciativas individuais de pesquisadores, em contraposicao ao paradigma da agricultura convencional, e ganhou importância com a evolucao e estrategia do movimento em agroecologia que fizeram com que a Embrapa institucionalizasse o assunto, com o lancamento do Marco Referencial em Agroecologia (EMBRAPA, 2006). Segundo CAPORAL e COSTABEBER (2004) o processo de transicao agroecologica e complexo, tanto no campo tecnologico como metodologico e organizacional. Construido com avancos e recuos, dentro e fora dos sistemas de producao. Passa pelo processo de reducao e substituicao de insumo, manejo sustentavel dos recursos naturais e redesenho dos agroecossistemas (GLIESSMAN, 2000). Contudo, depende dos fatores sociais, economicos e politicos para tornar-se realidade. Neste cenario, os sistemas agroflorestais sao experiencias locais que podem validar os principios, enriquecer a propria concepcao teorica de agroecologia e contribuir no processo de transicao agroecologica. MATERIAL E METODO Este trabalho foi baseado na analise dos relatorios internos dos projetos de pesquisa e desenvolvimento executados pela Embrapa Amazonia Ocidental, com destaque ao projeto pioneiro em sistemas agroflorestais, denominado de “Dinâmica do solo, da vegetacao e efeitos ambientais sob sistemas agroflorestais em pastagens degradadas”, financiado pela Fundacao Rockefeller, convenio Embrapa/Universidade Estadual de Carolina do Norte-NCSU (1991-1994). Em sua segunda fase este projeto foi nomeado de “Recuperacao de pastagens abandonadas e/ou degradadas atraves de sistemas agroflorestais na Amazonia Ocidental”, com apoio financeiro do Programa Piloto para a Protecao das Florestas Tropicais do Brasil – PPG7 (1995-1999) e atualmente esta vinculado ao Projeto do MCT/CNPq/PPG7-fase2. Os ensaios foram desenvolvidos no Campo Experimental da Embrapa Amazonia Ocidental, situadas no km 54 da BR–174 (Manaus-Boa Vista). Foram implantados e avaliados quatro arranjos agroflorestais, em tres condicoes de areas de pastagens abandonadas e/ou degradadas, manejados com medio e baixo insumo, tres repeticoes em parcelas de 60m x 50m. Ate o terceiro ano, foram mantidas as culturas anuais (arroz - Oriza sativa, mandioca - Manihot esculenta milho - Zea mays e feijao - Vigna unguiculata). Num processo simultâneo e sequencial foram implantadas as frutiferas (mamao - Carica papaya, maracuja - Passiflora edulis, banana - Musa paradisiaca, acerola - Malphigia glabra, araca-boi - Eugenia stipitata, cupuacu - Theobroma grandiflorum, acai - Euterpe oleraceae, pupunha - Bactris gasipaes, guarana - Paulinnia cupana, pimenta-do-reino - piper nigrum e jenipapo - Genipa america), as especies florestais (mogno - Swietenia macrophylla, teca - Tectona grandis, castanha - Bertollethia excelsa, capoeirao - Colubrina glandulosa, parica - Schizolobium amazonicum, andiroba - Capara guiaenensis e pau-rosa – Aniba rosaeodora) e a especies forrageiras (Desmodium ovalifollium, Brachiaria humidicola e Brachiaria brizantha). A Inga edulis e Gliricidia sepium foram plantadas para adubacao verde. RESULTADO E DISCUSSAO Os arranjos agroflorestais (agrosilvicultural e agrosilvipastoril) permitiram a producao ate o terceiro ano de cultivos anuais. No primeiro ano obteve-se a colheita de mandioca (10 t/ha.), milho (2,0 t/ha.) e feijao (0,4 t/ha.). No segundo ano, colheita de mandioca (8,0 t/ha.), arroz (0,5 t/ha) e feijao (0,4 t/ha). No terceiro ano, somente a colheita de mandioca (5,0 t/ha.). A partir do segundo ano iniciou a producao do mamao e maracuja e no quarto ano a producao das demais fruteiras. A banana foi introduzida apos a saida do mamao. O acai apos a retirada de palmito das pupunheiras. O pimenta-do-reino apos a saida do maracuja e o guarana foi introduzido com a saida da acerola. As fruteiras dos sistemas agrosilviculturais iniciaram a producao com 0,4 t/ha/ano e podem atingir mais de 12 t/ha/ano, apos o setimo ano de plantio, incluindo a colheita de castanha, pimenta-do-reino e guarana. As pastagens consorciadas produziram de 7 a 10 t/ha/ano de forragem. No agroecossistema de pastagem (agrosilvipastoril) pode-se optar pela rotacao de cultivo anual de culturas alimentares, ou, fazer a integracao de lavoura pastagem, estes ensaios estao sendo programados para serem avaliados a partir de 2007. O parica, acerola, jenipapo e teca nao apresentaram bom desempenho nestes agroecossistemas. Aos 12 anos de idade, as especies florestais apresentaram um bom desempenho, alem de produzirem madeira e produtos nao-madeireiros, exercem importante papel na estrutura (esqueleto) dos arranjos agroflorestais, na ciclagem de nutrientes, no acumulo de materia orgânica no solo e armazenamento/sequestro de carbono. A castanheira atingiu 19,5 m de altura e 35,5 cm de DAP e iniciou a producao, aos setimo ano de idade, demonstrando ser uma especie adaptada as condicoes de baixa fertilidade do solo. O mogno apresentou altura media de 12,0 m e 23,5 cm de DAP, alcancando mais de 6,0 metros de altura, livre do ataque da broca do caule (Hypsipylla grandella). Estima-se que possa ser colhido aos 25 anos de idade (DAP > 45,0 cm). A colubrina alcancou mais de 22,0 cm de DAP e 16 m de altura. No processo de ciclagem da materia orgânica e reposicao de nutrientes, o inga e a gliricidia, adicionaram cerca 7,5/t/ha/ano de biomassa, contribuindo substancialmente na qualidade e quantidade de nutrientes, bem como, na diminuicao de adubacao quimica. Nao foi usado agrotoxico contra pragas e o raro aparecimento de vassoura-de-bruxa (Crinipellis perniciosa) no cupuacuzeiro foi controlado com as podas de galhos. Do ponto vista de validacao dos principios da agroecologia, os arranjos estudados, alem de resgatarem uma pratica tradicional da populacao amazonica, demonstraram ser produtivos, capazes de gerar renda, seguranca alimentar e prestarem importantes servicos ambientais para a regiao. Sua sustentabilidade depende de praticas que estimulem a acao da biota do solo, a ciclagem de nutrientes e o manejo da materia orgânica. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS CAPORAL, F. R.; COSTABEBER, J. A. Agroecologia: alguns conceitos e principios. Brasilia, DF: Ministerio do Desenvolvimento Agrario, Secretaria da Agricultura Familiar/DATER/IICA, 2004. 10 p. EMBRAPA. Marco referencial em agroecologia. Brasilia, DF: Embrapa Informacao Tecnologica, 2006. 70 p. GLIESSMAN, S. R. Agroecologia: processos ecologicos em agricultura sustentavel. Porto Alegre, RS, Editora da UFRGS, 2a. Ed. 2000. 654 p.

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