
De O tombo da lua , de Mário de Carvalho, a O homem que engoliu a lua , de Mário de Carvalho e Pierre Pratt
2009; Editora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (EDIPUCRS); Volume: 43; Issue: 2 Linguagem: Português
ISSN
1984-7726
Autores Tópico(s)Linguistics and Language Studies
ResumoO Beco das Sardinheiras e um Beco como outro qualquer, encafuado na parte velha de Lisboa. Uns dizem que e de Alfama, outros que e ja de Mouraria e sustentam as suas opinioes com solidos argumentos topograficos, abonados pela doutrina de olisiponenses egregios. Eu, por mim, nao me pronuncio. Tenho ideia de que e mais Alfama, mas nao ficaria muito escarmentado se me provassem que afinal e Mouraria. Creio que o nome lhe vem das sardinheiras que exibem um carmesim vistoso durante todo o ano, plantadas num canteiro que rompe logo a esquina, nao longe da drogaria que fica na Rua dos Electricos. A gente que habita o Beco e como a demais, nem boa nem ma. Tem sobre os outros lisboetas um apego ainda maior ao seu sitio e as suas coisas. Desde ha muito que nao ha memoria de que algum dos do Beco tenha emigrado de livre vontade. A forca sim, fizeram a India e Alcacer Quibir, andaram no mar dos Japoes e nas selvas brasileiras, sofreram em Africa, nas guerras muitas, bateram-se contra os boches, na Flandres. Como todos nos. Aos recrutadores nunca foi imune o Beco. E, em boa verdade, nao se pode dizer que tenha sido pior para os de la esta permeabilidade a historia que tambem foi a dos outros. Todas as fabulas, todos os contares, todas as imaginacoes das sete partidas do mundo penetraram o Beco e enriqueceram consideravelmente a sabedoria dos seus vizinhos. (CARVALHO, 1991, p.13-14)
Referência(s)