
Neuropatia por hanseníase: atraso no diagnóstico ou um diagnóstico difícil?
2011; Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz; Volume: 27; Issue: 10 Linguagem: Português
10.1590/s0102-311x2011001000020
ISSN1678-4464
AutoresMarcelo Carneiro, Lia Gonçalves Possuelo, Andréia Rosane de Moura Valim,
Tópico(s)Complementary and Alternative Medicine Studies
ResumoCaro editor, Inicialmente, parabenizo os colegas do Ceara pelo interessante artigo 1, Neuropatia Silenciosa em Portadores de Hanseniase na Cidade de Fortaleza, Ceara, Brasil, visto a importância social desta patologia no Brasil, sendo negligenciada em locais de baixa prevalencia (1,4/100.000 habitantes) como o Rio Grande do Sul 2. Esse fato e preocupante, pois as queixas de alteracao de sensibilidade cutânea sao menosprezadas pela equipe de saude, que realiza outros diagnosticos diferenciais, ocasionando o diagnostico tardio e com incapacidades estigmatizantes e impacto nas relacoes biopsicossociais e economicas 3. Em uma analise retrospectiva de 38 (100,0%) casos de hanseniase, na cidade de Santa Cruz do Sul (Rio Grande do Sul), do periodo de 1995 a 2005, verificou-se uma idade media de 50,5 (± 8,2) anos, variando de 20 a 75 anos. O predominio da cor branca em 33 (86,8%) casos e uma caracteristica regional devido a imigracao alema antes da segunda guerra mundial. O diagnostico da forma clinica 4 mais frequente, de acordo com a Classificacao de Madri, foi a virchowiana em 20 (52,6%) casos e, baseado na classificacao operacional da Organizacao Mundial da Saude, 27 (71,1%) casos foram incluidos no grupo multibacilar. A proporcao de incapacidade verificada em 15 (40%) casos foi maior do que a relatada por Leite et al. 1. Dentre os identificados com incapacidades, 4 (26,7%) pacientes apresentavam grau I e 11 (73,3%) grau II. Infelizmente, nao foi possivel determinar a frequencia de neuropatia silenciosa nesta analise. Na avaliacao pos-alta as deformidades mais observadas foram ulceras plantares (13%), artropatia de Charcot (9%) e flexao fixa (“garra”) dos dedos das maos (6%). As reacoes hansenicas ocorreram em 7 (18,4%) pacientes apos a alta, sendo que 3 (42,8%) apresentaram reacao reversa e 4 (57,1%) desenvolveram eritema nodoso hansenico. A neurite aguda foi verificada em 30,2% dos casos de reacoes dos tipos 1 e 2. O predominio dos casos nas formas multibacilares e com incapacidades motoras/neurologicas demonstra o atraso no diagnostico em uma area de baixa prevalencia e, consequentemente, o subdiagnostico da neuropatia silenciosa. Essas evidencias permitem supor o despreparo para o reconhecimento das complicacoes dessa micobacteriose, questionando-se o controle epidemiologico da doenca nesta localidade.
Referência(s)