Artigo Produção Nacional

Fragments of a discourse on childhood

2012; UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO; Volume: 8; Issue: 15 Linguagem: Português

10.12957/childphilo.2012.20737

ISSN

2525-5061

Autores

Júlio Groppa Aquino,

Tópico(s)

Linguistics and Education Research

Resumo

Na companhia de alguns pressupostos teorico-metodologicos foucaultianos, o presente texto ambiciona problematizar os automatismos discursivos contemporâneos reservados a infância, os quais a adornam com a aura de bem-aventuranca, consagrando-lhe o papel de sementeira de todas as coisas, e, ao mesmo tempo, perpetram-lhe a pecha de incontinencia, corrupcao e subalternidade, atentando, assim, contra sua errância, seu ineditismo e, portanto, sua generatividade. O procedimento por nos adotado e o de um entrelacamento improvavel de multiplas vocalizacoes sobre a infância. A moda barthesiana, elegemos um conjunto de fragmentos descontinuos de textos teoricos classicos, de relatos jornalisticos e de obras literarias; todos eles entremeados ora por bordoes afeitos aquilo que e comumente denominado industria cultural, ora por passagens marcantes do cancioneiro popular. Juntos, tais fragmentos findam por compor um breve e insolito compendio de coisas efetivamente ditas nao apenas sobre a infância, mas tambem para ela, quando nao em nome dela. A estrategia de composicao textual levada a cabo e a da bricolagem de tais enunciados dispersos, com vistas a um embaralhamento das marcas autorais das fontes mobilizadas. Em outras palavras, interessa-nos uma especie de repeticao distorcida, hiperbolica, monstruosa ate, de determinadas fulguracoes discursivas sobre o mundo e a vida infantis, para alem ou aquem das fronteiras de seu territorio enunciativo original. Outrossim, trata-se de atritar tais enunciados e, quica, faze-los curtocircuitar e, no limite, delirar, a fim de que, desse modo, possamos fazer reverberar nao apenas os movimentos de repeticao ai presentes, mas tambem suas fissuras, seus possiveis pontos cegos, movedicos; pontos de esgotamento; pontos de virada, talvez. Cabe-nos ainda esclarecer que nao intencionamos nem descrever, tanto menos interpretar os conteudos discursivos que pontilham o ramerrao da infância, mas tao somente trazer a tona, mais uma vez, a engenhosidade circular e reiterativa que os anima. Ao faze-lo, cumpre-nos aticar suas nervuras operacionais, desalojando temporariamente os enunciados de sua pretensao de totalizacao. Submetidos a um deslocamento forcoso de sua jurisdicao enunciativa, tais enunciados, quando flagrados em sua arbitrariedade, sua jactância e, no limite, sua vulnerabilidade, passam, porventura, a funcionar como espelhos de circo, os quais nao refletem, nao representam, nao logram ser emissarios da verdade, mas, ao contrario, caricaturizam a imagem daquele que ali se posta em busca de alguma revelacao. Tal procedimento justifica-se nao pelo usufruto de uma forma pretensamente heterodoxa, extravagante ou clandestina em relacao aos protocolos dos bons modos expressivos, mas pela invocacao de um modo intemperante e sequioso de enderecamento critico a performatividade robusta e, ao mesmo tempo, quebradica do tipo de vivencia decretada a infância, esta tomada nao apenas como efeito automatico de um dispositivo implacavel, mas precisamente como um foco de experiencia, na acepcao de Foucault.

Referência(s)
Altmetric
PlumX