
O ESTRESSE E A SÍNDROME DE BURNOUT EM ENFERMEIROS BOMBEIROS ATUANTES EM UNIDADES DE PRONTO-ATENDIMENTO (UPAS)
2010; UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO; Volume: 2; Issue: 3 Linguagem: Português
ISSN
2175-5361
AutoresPriscila Grangeia dos Santos, Joanir Pereira Passos,
Tópico(s)Education and Work Dynamics
ResumoO ESTRESSE E A SINDROME DE BURNOUT EM ENFERMEIROS BOMBEIROS ATUANTES EM UNIDADES DE PRONTO-ATENDIMENTO (UPAS)Priscila Grangeia dos Santos, Joanir Pereira Passos .Descritores: enfermagem; esgotamento profissional; estresse psicologico. INTRODUCAOO trabalho e mediador de integracao social, tendo, assim, importância fundamental na constituicao da subjetividade, no modo de vida e, portanto, na saude fisica e mental das pessoas. As acoes implicadas no ato de trabalhar podem gerar reacoes psiquicas relacionados as condicoes do trabalho. Dentre as reacoes psiquicas aos trabalhadores existe o estresse e a Sindrome de Burnout. O estresse laboral resulta do desequilibrio mantido entre as demandas que o exercicio profissional exige e as capacidades de afrontamento do trabalhador. E no local laboral onde se estabelecem as demandas de tarefas, e o profissional experimenta variados graus de controle sobre as atividades que executa (SILVA, 2007). A Sindrome de Burnout e uma resposta ao estresse laboral cronico que ocorre com predilicao em profissionais de organizacao de servicos, com destaque para medicos, enfermeiros e professores. Deteriora significativamente a qualidade do trabalho e consequentemente a qualidade do servico que a organizacao oferece. (GIL-MONTE, 2002, SILVA, 2000, BELANCIERI, 2005).Muitos estudos abordam alteracoes da saude mental em enfermeiros de servicos hospitalares, mas estudos com enfermeiros bombeiros atuantes em Unidades de Pronto-atendimento (UPAs) ainda sao escassos. Segundo Murta e Troccoli (2007), os Bombeiros que lidam com situacoes de emergencia em saude estao mais susceptiveis ao desenvolvimento de stress no trabalho. E existem evidencias de que os bombeiros estao expostos a fatores de risco para o desenvolvimento de burnout. OBJETIVOSDescrever o perfil de estresse em enfermeiros bombeiros atuantes em UPAs; analisar a ocorrencia da Sindrome de Burnout em enfermeiros bombeiros atuantes em UPAs e; avaliar a associacao entre estresse e a Sindrome de Burnout em enfermeiros bombeiros atuantes em UPAs. METODOLOGIATrata-se de uma pesquisa exploratoria do tipo seccional. Os sujeitos do estudo foram enfermeiros bombeiros atuantes em UPAs. A estrategia metodologica utilizou-se de um questionario com questoes para caracterizacao da populacao; o Job Stress Scale (JSS) - escala criada por Tores Theorell que possibilita avaliar a exposicao ao estresse baseado na demanda psicologica no trabalho e controle sobre o trabalho e; o Inventario em Burnout de Maslach (MBI - Human Services Survey) - questionario utilizado para estimar a sindrome de burnout, composto por afirmacoes sobre sentimentos e atitudes que englobam os tres aspectos da sindrome: exaustao emocional, despersonalizacao e envolvimento pessoal no trabalho. A coleta de dados foi realizada apos a aprovacao do Comite de Etica em Pesquisa da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e a autorizacao do comandante do 2o Grupamento de Socorro de Emergencia do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro, em atendimento ao disposto na Resolucao No 196/96 do Conselho Nacional de Saude.Apos a aplicacao dos instrumentos, se deu o inicio da analise dos dados coletados. O estresse foi avaliado a partir da JSS, onde atraves dos niveis de demanda e controle obtem-se a possibilidade de quatro experiencias dentro do ambiente de trabalho: trabalho com alta exigencia, trabalho ativo, trabalho de baixa exigencia e trabalho passivo. E, segundo proposto por Reinhold apud Benevides-Pereira (2004) atraves do MBI, verificou-se a possibilidade de presenca da sindrome de burnout e aferiu-se os componentes da sindrome: exaustao emocional, despersonalizacao e envolvimento pessoal no trabalho. E observou-se a associacao entre as dimensoes demanda e controle do JSS e a ocorrencia da Sindrome de Burnout RESULTADOS Dentre a populacao estudada (58 enfermeiros bombeiros), 82,8% eram do sexo feminino. A faixa etaria de 26 a 30 anos apareceu com maior prevalencia, 56,9% dos entrevistados. E 56,8% da amostra viviam sem companheiro (solteiro, divorciado ou separado) e 67,2 % nao tinham filhos. 41,4% possuiam renda familiar de mais de R$5000,00. Em relacao a cor da pele auto relatada, 50% considerava-se branco e os outros 50% considerava-se nao branco (preto, pardo, amarelo ou indigena). O nivel de escolaridade revelou que a maioria dos enfermeiros participantes possuiam pos-graduacao (72,4%).Observou-se periodo relativamente curto na ocupacao: mais de 81% referiram menos de 10 anos na ocupacao atual. A presenca de mais de um vinculo empregaticio foi uma realidade para a maioria da populacao (70,7%). Alem do numero de vinculos, quase a totalidade da populacao (93,1%) apresentou demanda elevada de trabalho com carga horaria de trabalho semanal igual ou superior a 40 horas semanais, tendo 44,8% da populacao com carga horaria semanal superior a 60 horas semanais. Sabe-se que a carga horaria semanal excessivamente alta que, muitas vezes, se somam ao trabalho em turnos contribui como estimulo ao estresse. Estudos apontam inclusive que esses fatores sao motivos para abandono da profissao (SECAF; RODRIGUES, 1998, ANGERAMI; GOMES; MENDES, 2000). Trabalhando com o modelo demanda-controle de Karasek, o JSS observou-se prevalencia maior de trabalho com alta exigencia (alta demanda e baixo controle), representado por 62,1% da populacao do estudo, sendo em sua maioria mulheres entre 26 a 30 anos com mais de um vinculo empregaticio. A possibilidade de indicativo da Sindrome de Burnout avaliada pelo MBI apareceu em 49 enfermeiros bombeiros, ou seja, 84,5%, tambem sendo a maioria mulheres entre 26 a 30 anos. E o indicativo de tendencia a sindrome apresentou-se em 3 integrantes, 5,2%. Avaliando cada dimensao da sindrome em alta, media e baixa tendencia a Burnout, obtiveram-se percentuais maiores dentro do nivel alta tendencia a Burnout nas tres dimensoes: 89,7% com alta tendencia a Burnout na dimensao exaustao emocional, 78,9% com alta tendencia a Burnout na dimensao despersonalizacao e 79,3% com alta tendencia a Burnout na dimensao envolvimento pessoal no trabalho, diferenciando o resultado de outros estudos, como o realizado por Borges et al (2002) a nivel hospitalar, onde 93% dos participantes estavam distribuidos entre os niveis medio e alto. O estudo aponta que a maioria dos enfermeiros com indicativo da Sindrome de Burnout ou tendencia a sindrome possuiam ate cinco anos de profissao (56,8%), aproximando-se de outros estudos como o de Feliciano, Kovacs e Silvia (2005) afirmam que nas areas de saude, pesquisas tem demonstrado maior concentracao de profissionais insatisfeitos nos primeiros anos de formado, tendendo a cair com o transcurso do tempo. Ressaltando que a insatisfacao e uma caracteristica da Sindrome de Burnout. Abordando o vinculo profissional, 92,6% dos profissionais com mais de um vinculo apresentaram indicativo ou tendencia a Sindrome de Burnout. Provavelmente, esta situacao demonstra a necessidade de ter multiplos empregos devido a acentuada lacuna entre os baixos salarios e as aspiracoes a um determinado padrao de vida compromete a qualidade da assistencia e a saude fisica e mental dos profissionais de saude (FELICIANO; KOVACS; SILVIA, 2005, p. 234).E foi constatada a associacao entre a exposicao as dimensoes do estresse e a presenca da Sindrome de Burnout, onde 58,6% dos enfermeiros encontravam-se dentro da alta exigencia no trabalho e com indicativo da sindrome. Confirmando Sentone e Goncalves (2002) ja que a demanda de trabalho vem sendo associada e discutida como potencial fator relacionado ao sofrimento psiquico para a enfermagem. CONCLUSOESAs atividades laborais dos enfermeiros bombeiros atuantes em UPAs impoe altas demandas junto ao baixo controle, evidenciando alta prevalencia de estresse associado a presenca da Sindrome de Burnout em uma populacao jovem (26 a 30 anos). A discussao sobre intervencoes no meio ambiente de trabalho desses profissionais torna-se fundamental para o bem-estar laboral e consequentemente a saude mental. As alteracoes psiquicas desses trabalhadores trazem prejuizos ao individuo como ser social alem de afetar o cuidado prestado. O equilibrio no ambiente de trabalho deve ocorrer para que evitar ou reduzir o adoecimento. REFERENCIAS ANGERAMI, E.L.S.; GOMES, D.L.S.; MENDES, I.J.M. Estudo da permanencia dos enfermeiros no trabalho. Rev. Latino-am. Enfermagem, v.12, n.04, p.614-22, jul. – ago. 2004. BELANCIERI, M.F. Enfermagem: estresse e repercussoes psicossomaticas. Bauru: EDUSC, 2005. BORGES, L.O. et al. A sindrome de burnout e os valores organizacionais: um estudo comparativo em hospitais universitarios. Psicol. Reflex. Crit., v.15, n.1, p. 189-200, 2002. FELICIANO, K.V.O.; KOVACS, M. H.; SARINHO, S. W. Sentimentos de profissionais de servicos de pronto-socorro pediatrico: reflexoes sobre burnout. Rev. Bras. Saude Mater. Infant, Recife, v.5, n.3, p. 319-328, jul.-set. 2005. MURTA, S.G.; TROCCOLI, B.T. Stress ocupacional em bombeiros: efeitos da intervencao baseada em avaliacao de necessidades. Estud Psicol, v.24, n.1, p. 41-51, jan.-mar. 2007. REINHOLD, H. H. O sentido da vida: prevencao de stress e burnout do professor. 2004. Dissertacao (doutorado em psicologia) – Pontificia Universidade Catolica de Campinas, Sao Paulo, 2004. SECAF, V.; RODRIGUES, A.R.F. Enfermeiros que deixaram de exercer a enfermagem: por que? Rev. Latino-am. Enfermagem, v.06, n.02, p.5-11, abr.1998. SENTONE, A.D.D.; GONCALVES, A.A.F. Semina: Ciencias Biologicas e da Saude, Londrina, v. 23, [s/n], p. 33-38, jan. – dez.2002. SILVA, D.M.P.P.; MARZIALE, M.H.P. Absenteismo de trabalhadores de enfermagem em um hospital universitario, Rev. Latino-am. Enfermagem, v.08, n.05, p.44-51, 2000. SILVA, J.L.L. Estresse e transtornos mentais comuns em trabalhadores de enfermagem. 2007. Dissertacao (mestrado em enfermagem) – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro.
Referência(s)