Intoxicação de um canino por cannabis sativa

2013; UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA; Volume: 12; Linguagem: Português

ISSN

2238-1171

Autores

Maurício Ferreira e Silva Faraco, Gabriela Marques Sessegolo, Carine Ribas Stefanello,

Tópico(s)

Cannabis and Cannabinoid Research

Resumo

A mistura feita a partir de folhas e flores secas da planta Cannabis sativa, conhecida popularmente como “maconha”, normalmente, intoxica os animais atraves da ingestao acidental (BEASLEY, 1999; DONALDSON, 2002; MEOLA et al, 2012). Segundo Botha (2009), a planta possui o delta-9- tetrahidrocannabinol (Δ-9-THC), para o qual existe um receptor no sistema nervoso, o CB1, e os seus efeitos sao causados devido a acoes em varios neurotransmissores, como a dopamina, serotonina, acetilcolina, entre outros. Os sinais clinicos da intoxicacao incluem: sinais neurologicos, cardiovasculares e gastrointestinais ou ambos, que variam conforme a concentracao de Δ-9-THC da planta, e normalmente desenvolvemse de uma a tres horas apos a ingestao (BEASLEY, 1999; BOTHA, 2009; MEOLA et al, 2012). Em um periodo de quatro anos, o Animal Poison Control Center (APCC - EUA) registrou cerca de 250 casos de intoxicacao por Cannabis sativa, dos quais 96% em caes, 3% em gatos e 1% em outras especies, duas mortes foram reportadas (DONALDSON, 2002). Foi atendido um canino sem raca definida, com cerca de tres meses de idade, pesando 1,5 quilogramas, em estado semicomatoso em decubito lateral. O proprietario referiu que algumas horas antes o cao estava cambaleante em casa e admitiu a hipotese do mesmo ter ingerido certa quantidade de “maconha”. Antes disso, relatou que o cao estava bem, alerta, negou episodios de vomito ou diarreia e a possibilidade de traumatismo. Ao exame fisico o animal apresentava temperatura retal de 36,4°C, TPC maior que dois segundos, hiperalgia abdominal, deprimido e se tornava hiperreflexivo a manipulacao. O animal foi internado para monitoracao dos parâmetros fisiologicos como: pulso, frequencias cardiaca e respiratoria. Assim como, para realizacao de terapia de suporte utilizando ringer lactato (1,6 ml.kg-1 .h-1 IV), administracao de furosemida (1 mg.kg-1 IV, BID), brometo de escopolamina (0,3mg.kg-1 IV, TID) e diazepam (0,5mg.kg-1 , IV), de acordo com a necessidade. Foram realizados hemograma e exames bioquimicos, ambos, sem alteracao. Apos vinte e quatro horas de internacao, o paciente teve uma melhora satisfatoria, com recuperacao completa dos sinais clinicos. Nos animais, a ingestao e a rota mais comum de exposicao a planta (BEASLEY, 1999; CAMBPELL, 2000). Segundo Botha (2009), em um estudo com 213 caes intoxicados por Cannabis sativa, 99% desenvolveram sinais neurologicos e apenas 30% desenvolveram sinais gastrointestinais. Os sinais mais frequentes foram depressao (60%), ataxia (59%), vomito (25%), tremores (18%) e midriase (10%), o cao desenvolveu os sinais mais evidentes do estudo, alem de uma leve hipotermia, depressao, hiperexcitacao e vocalizacao descritas por Beasley (1999) e Donaldson (2002). Outros sinais incluem, sialorreia, hipotensao, bradicardia, bradipneia, incontinencia urinaria, convulsoes e coma (BEASLEY, 1999; DONALDSON, 2002 ; GRAHAM; MEOLA et al , 2012). Nao ha anormalidades especificas no perfil bioquimico serico nesses casos, e testes de urina podem ajudar a confirmar a exposicao, porem podem ocorrer falso-negativos (DONALDSON, 2002). O tratamento para intoxicacao com Cannabis sativa, envolve minimizar a absorcao, iniciar terapia sintomatica e de suporte (CAMPBELL, 2000). A emese pode ser induzida ate trinta minutos apos a ingestao. Entretanto, emeticos podem nao ser tao eficazes, ja que o Δ-9-THC tem efeito anti-emetico. Em animais sintomaticos, a terapia de suporte inclui administracao intravenosa de fluido (ringer lactato ou solucao salina em taxa de manutencao), termorregulacao e trocas alternadas de decubito a cada quatro horas, alem de monitoracao da funcao respiratoria e cardiaca. O diazepan pode ser administrado em pacientes agitados, usando inicialmente uma dose baixa (0,25 – 0,5 mg/kg) para prevenir excesso de sedacao (BEASLEY, 1999; CAMPBEL, 2000; DONALDSON, 2002). No caso relatado, o historico aliado aos sinais clinicos foi determinante para o fechamento do diagnostico e a instituicao da terapeutica adequada. Em episodios como este, de exposicao a drogas ilicitas, o questionamento sob sigilo e a melhor maneira para se obter uma anamnese precisa.

Referência(s)