Indivíduo e sociedade na escrita da História: o primado do social na Historiografia dos Annales
2009; UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA; Volume: 21; Linguagem: Português
ISSN
2317-6725
Autores Tópico(s)Sociology and Education in Brazil
ResumoA escrita da historia enquanto relato das acoes realizadas pelos sujeitos do poder politico e das atividades desenvolvidas pelo Estado no cotidiano das sociedades foi, por quase todo o seculo XIX, tido como unico modelo possivel de preservacao da memoria de maneira cientifica daquilo que realmente importava aos homens do presente. Seguindo este raciocinio, acreditava-se que somente a historia politica permitia aos homens comuns, os cidadaos do Estado, apropriarem-se das descontinuidades no tempo, apreendendo os acontecimentos e seus encadeamentos em uma longa sucessao de efeitos de toda ordem. A partir do seculo XIX na Europa, principalmente na Alemanha e na Franca, a historia dos fatos politicos foi apresentada como a unica possibilidade de realizacao cientifica da historia, na medida em que os “fatos historicos” que se dao ao historiador como fonte confiavel, sao justamente aqueles que foram protagonizados pelo Estado, retratando com fidelidade a historia daquilo que “realmente aconteceu”. No inicio do seculo XX, entretanto, esse esforco para garantir objetividade ao conhecimento historico, limitando-o a historia politica, nao mais atendia aos interesses e as expectativas intelectuais das novas geracoes de historiadores. Alem disso, os novos historiadores percebiam com certa preocupacao, sem deixar manifestar certo otimismo, o avanco das ciencias sociais e ao mesmo tempo a defasagem tematica e teorica da historia. Este fato caracteriza um contexto de “crise do saber historico”, posto que aos historiadores da idade da democracia e das massas, nao mais satisfazia uma historiografia centrada na exaltacao do Estado e nas suas formas de expressao. Sendo assim, a discussao a proposito desse paradoxo se da pelo anuncio da “pobreza” tematica e teorica daquela modalidade de historia, sugerindo-se uma renovacao na pratica dos historiadores a partir da qual se reabilitasse sua credibilidade epistemologica. O reconhecimento do estado de decadencia teorica e metodologica do tipo de historia que se pronunciava atraves do discurso narrativo, personalista, cronologico e descritivo, pode ser acompanhado pelos historiadores franceses a partir do debate promovido pela sociologia durkheimiana, apontando para os equivocos da historia historizante atraves da sintese critica elaborada por Francois Simiand. No artigo “Methode Historique et Sciences Sociales” publicado na Revue de Synthese Historique em 1903, Simiand alerta contra idolos da tribo dos historiadores, quais sejam, o cronologico, o individual e o politico. Segundo o autor, estes idolos agiam como senhores da historiografia, escravizando os historiadores a historia politica. Dessa forma, a sociologia de E. Durkheim serviu de inspiracao e base critica a esses historiadores no confronto contra a respeitabilidade da historia metodica.
Referência(s)