
Atividades humanas: práticas sociais diferenciadas
2013; UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS; Volume: 21; Issue: 3 Linguagem: Português
ISSN
2526-8910
AutoresCristiane Miryam Drumond de Britto, Regina Helena Vitale Torkomian Joaquim,
Tópico(s)Education Pedagogy and Practices
ResumoAs atividades humanas sao praticas sociais que se desenvolvem em relacoes, lutas de poder e conflitos entre individuos e coletivos inseridos em uma estrutura social hierarquizada de acordo com as condicoes economicas, educacionais, oportunidades de aquisicao de conhecimento, capacidade de reverter relacoes sociais em capital e com o status social do individuo e do grupo social; o que Bourdieu (2008) denominou capitais economico, cultural, social e simbolico, e com valores a partir de um campo especifico, no qual se estabelece a posicao social dos individuos. As atividades humanas ocorrem em um contexto de desigualdade nao somente economica, na medida em que existem deficits de capitais culturais que podem, por exemplo, influenciar no acesso a bens simbolicos. As acoes humanas estao localizadas em grupos sociais distintos que nos descrevem posicoes privilegiadas ou nao privilegiadas de individuos e grupos conforme o acumulo e composicao desses capitais na trajetoria da vida. Portanto, falar de atividade como instrumento ou recurso da Terapia Ocupacional e associa-la ao espaco social multidimensional na qual esta inscrita. As dimensoes sociais (os capitais) trazem as diferenciacoes. Ha praticas que se aproximam e outras que se afastam por distincao. As preferencias, gostos inerentes a quaisquer atividades humanas, sao reconhecidas por certos agentes sociais e distintas por outros. A escolha do instrumento ou recurso pelo terapeuta ocupacional e/ou individuo/ comunidade/organizacao assume significado dentre as praticas culturais, valores, crencas de um determinado coletivo social (KONDO, 2004). Ha o perigo do terapeuta ocupacional agir com suposicoes nao examinadas quando se trabalha com individuos cujas experiencias economicas e culturais sao bem diferentes das suas (BEAGAN, 2007). Nesse sentido compreendem-se as atividades humanas no campo da cultura, e as mesmas envolvem habitos, tecnicas, instrumentos, materiais construidos socialmente e com conhecimentos historicamente constituidos (LIMA; OKUMA; PASTORE, 2013). As atividades humanas nao sao iguais ou igualitarias, sao imbricadas em relacoes sociais e nao se dao pela acao de individuos isoladamente, fazem parte de relacoes que se “entrelacam de modo amistoso ou hostil” (ELIAS, 1993, p. 194). Havemos de nos deparar com formas de fazer a principio tao comuns e tao diferenciadas, por exemplo: o que come o operario e, sobretudo a sua maneira de comer, o esporte que ele pratica e sua maneira de pratica-lo, as suas opinioes politicas e sua maneira de exprimi-las diferem sistematicamente do consumo ou das atividades correspondentes de um industrial. Assim, por exemplo, o mesmo comportamento ou o mesmo bem pode aparecer como distinto para um, pretensioso ou banal para outro, vulgar a um terceiro (BOURDIEU, 2008). E na experiencia vivida dos individuos que se apreende a atividade humana, compoem-se gostos, compreendem-se as vantagens e desvantagens entre pessoas ou grupos sociais. Trabalhar com atividades em Terapia Ocupacional e lidar com mediacao de relacoes multiplas situadas no tempo e nos espacos culturais (BARROS; GHIRARDI; LOPES, 2002). Os conceitos e formas utilizados por terapeutas ocupacionais assumem tambem significados distintos, baseados no mesmo processo historico, cultural e social constitutivo de quaisquer atividades humanas. A atividade enquanto fato e ato (objeto) que nos define profissionalmente tambem nos dificulta uma unicidade, ha a estranheza do tao comum e tao distintivo, comum em qualquer momento da vida e em quaisquer circunstâncias humanas. A atencao do terapeuta ocupacional esta centrada nas atividades cotidianas, e sao as atividades que nos permitem estarmos vivos ou podem nos levar no caminho da morte, da desigualdade e opressao. Nessa vivacidade humana buscamos formas de constituir a profissao. Para quaisquer usos que se faca da atividade e fundamental que se tenha a consciencia de que ela nao e por si so benefica. Pode ser um instrumento, um recurso e/ou metodo que vise a reducao de injusticas cotidianas, injusticas ocupacionais (TOWNSEND; MARVAL, 2013) tao proprias nesse contexto desigual.
Referência(s)