Artigo Acesso aberto Produção Nacional Revisado por pares

Imagens do Tempo nos Meandros da Memória: Por uma Etnografia da Duração

2000; Associação Sul-Rio-Grandense de Pesquisadores em História da Educação (ASPHE); Volume: 1; Issue: 1 Linguagem: Português

10.22456/1984-1191.8928

ISSN

1984-1191

Autores

Cornélia Eckert, Ana Luiza Carvalho da Rocha,

Tópico(s)

Cultural, Media, and Literary Studies

Resumo

O processo de desencaixe “espaço-tempo” que as novas tecnologias da informática têm proposto para os lugares da memória no corpo da sociedade contemporânea, ao configurar as relações homem e cosmos em redes mundiais de comunicação, tem provocado nas ciências humanas a necessidade de se aprofundarem novas formas de entendimento das estruturas espaço-temporais que configuram a magia dos mundos virtuais.Para se enfrentar esse e outros desafios, cada vez mais o que se coloca é a relevância não apenas de se refletir sobre as diferentes modalidades de tecnologia s de pensamento (oralidade, escrita, redes digitais ) empregadas pelas sociedades humanas para liberar a memória de seu suporte material até atingir sua expressão recente em redes eletrônicas e digitais, mas, principalmente, de se indagar a respeito das operações e proposições através das quais as ciências humanas têm enfrentado, até o momento, o conhecimento da matéria do tempo e suas cadeias operatórias.Assim, antes de se insistir na polêmica sempre enriquecedora acerca da existência propriamente dita do fenômeno da memória, este artigo tem por intenção um convite especial ao seu leitor. Ou seja, um mergulho nos meandros das imagens do tempo que configuram o conteúdo dinâmico da imaginação criadora de diferentes autores que foram desafiados a compreender o fenômeno da memória no sentido de resgatar-se aí uma “epistemologia do conhecimento” de sua existência.Em especial isso exigirá do leitor o seu afastamento gradativo de uma posição epistemológica que aposta no caráter de ilusão, em geral psicológica, atribuído às operações do pensamento humano que sustentam os jogos da memória, no sentido de reduzir a imagem aos fenômenos da consciência, minimizando o lugar da imaginação criadora como elemento formal do pensamento humano ou tornando-a apenas um resíduo psicológico e “material” da consciência.Nessa linha de investigação, o leitor é desafiado a compartilhar, com as autoras, de um conhecimento ainda em processo de gestação, adotando a fragilidade de um pensamento que se empenha na compreensão dos fenômenos da memória na perspectiva da flexibilidade da inteligência humana em arranjar sentido ao mundo quando confrontada com o caráter perecível de suas ações. A proposta parece ser, até certo ponto, simples. Trata-se de um convite ao leitor para que ele abandone as antíteses clássicas – organização viva e matéria, instinto e inteligência, tempo e espaço, vida interior, ação e linguagem – tais como as que aparecem nas obras de Bergson, Husserl e Sartre, para submergi-las num outro espaço de problemas, a saber: a convergência de tais instâncias entre si, por encaixes ou equivalência simples ou complexas, na unidade entre pensamento simbólico (da ordem das imagens) e pensamento conceitual. Isto é, instâncias que apresentam “interseções segundo combinações” diversas que se solidarizam, gerando a unidade do pensamento e de suas expressões simbólicas, topos a partir do qual pode se pensar a estruturação simbólica da memória.Em particular, cabe uma primeira decifração de ordem particular: a relevância de se indagar sobre a magnitude dos golpes administrados pelo bergsonismo à idéia de um continuum da consciência quando o pensamento filosófico do Ocidente moderno permanecia conferindo à imagem e à imaginação funções meramente reguladoras da existência. Por outro, trata-se aqui, sem dúvida, de uma crítica à doutrina bergsonista que atribui à imagem um papel secundário, espécie de “totalidade mnésica da consciência”, pela forma como ela aparece no interior do par antitético, vida e matéria. Acima de tudo, cabe salientar, que mesmo refém das armadilhas da psicologia clássica a obra de Henry Bergson, Matéria e Memória (concebida em 1896), permanece, ainda nos dias de hoje, a fonte de inspiração para muitos estudos antropológicos sobre memória.Assim, pretende-se instaurar, neste artigo, outras vias para o estudo da memória, na linha de uma fenomenologia da imaginação que não a introspecção bergsonista ou o monismo do cogito sartriano, onde a imagem aparece sempre cumprindo um papel suspeito de regressão, “estreitamente empirista, tanto mais quanto se pretende que ela esteja separada de um pensamento puramente lógico”.

Referência(s)