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Natalidade e amor mundi: sobre a relação entre educação e política em Hannah Arendt

2010; UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO; Volume: 36; Issue: 3 Linguagem: Português

10.1590/s1517-97022010000300011

1678-4634

Adriano Correia,

Social and Political Issues

Pretende-se examinar, no presente artigo, as articulações entre o ensaio "A crise na educação", de Hannah Arendt, e temas centrais de seu pensamento político, como a natalidade, a condição de estrangeiro no mundo, o amor ao mundo (amor mundi), a ação política e a crise na era moderna. O objetivo central consiste em explicitar o quanto esse ensaio de ocasião se integra harmonicamente no âmbito do pensamento político da autora, por um lado, e ressaltar o vigor clássico de sua análise, por outro. Para ela, a essência da educação é a natalidade, ou seja, o fato de que constantemente chegam ao mundo novos indivíduos como estrangeiros, a quem deve ser feito o convite para que se sintam em casa. Esses estrangeiros em um mundo em constante mudança são capazes de iniciar novos eventos, sem os quais a conservação do próprio mundo estaria em questão. A educação dos jovens tem de lidar com o paradoxo de familiarizar os novos com o mundo velho que os precede, sem ao mesmo tempo acomodá-los inteiramente a ponto de a novidade de sua aparição ser sufocada, o que poria em risco a conservação mesma do mundo, demandante de permanente zelo e renovação. Não obstante a dificuldade da mediação, Arendt julga que a educação deve ser, antes de tudo, orientada pela responsabilidade pelo mundo, que se traduz tanto na sua apresentação aos novos quanto na conservação da novidade nestes.