A Terra Prometida em uma bandeja colonial
2014; UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO; Volume: 15; Issue: 29 Linguagem: Português
10.1590/2237-101x015029017
ISSN2237-101X
Autores Tópico(s)Jewish and Middle Eastern Studies
ResumoShlomo Sand, professor de Historia Contemporânea da Universidade de Tel Aviv, ja havia causado polemica com o seu livro A invencao do povo judeu, traduzido para mais de 20 idiomas, em que desconstruiu o mito dos judeus como um povo monolitico, eternamente errante e obcecado pelo retorno a Siao. O argumento central, recuperado nesta nova obra A invencao da terra de Israel, e que a base para a criacao de Israel e a expulsao dos judeus da Europa no final do seculo XIX e as restricoes a imigracao estabelecidas pelos Estados Unidos no inicio do seculo XX. Somente a descoberta da real dimensao dos horrores do Holocausto tornaria a criacao de um Estado judeu algo inatacavel. Para Sand, a expressao “povo judeu” e tao desprovida de sentido quanto se referir a um povo budista ou baha’i. Ao contrario do que ira ocorrer a partir do medievo, o judaismo foi uma religiao fervorosamente proselitista e este foi um dos principais pontos de atrito com a cultura greco-romana, levando o imperador Adriano a proibir a circuncisao em todo o imperio, inclusive aos judeus. Seu sucessor, Antonio Pio, revogou a proibicao da circuncisao aos judeus, mas passou a punir a conversao ao ju daismo com a morte. Este periodo proselitista que vai de II a VIII d. C. explica o enorme numero de judeus na Europa e posteriormente de cristaos novos em relacao com o pequeno povo sob ocupacao romana na Judeia dois mil anos antes. Engenhosamente, o autor ataca a ideia do direito superior de um povo exilado em 73 d.C., em detrimento daqueles que la viviam ha mais de um milenio. Provocativamente, questiona por que tambem nao seria possivel um “direito de retorno” dos arabes a Peninsula Iberica ou dos nativos norte-americanos a Manhattan. O mito do Retorno e da criacao de Israel e apenas mais um dos mitos tipicos do colonialismo que eram usados para justificar empreendimentos exploratorios no final do seculo XIX. Afinal, os recem-chegados da Europa Oriental nao migravam para a Palestina com o mesmo proposito dos judeus que chegavam como imigrantes a Nova York ou Londres, ou seja, viver em simbiose com os habitantes mais antigos, mas sim tomar a terra como sua, como se algo perdido ha muito tempo estivesse sendo restituido a seus legitimos donos, mesmo que pouquissimo em comum houvesse entre os zelotes que resistiram aos romanos no templo e aquelas
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