Entre a razão e o pecado: a linguagem do amor nas correspondências de Abelardo e Heloísa
2009; UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ; Volume: 1; Issue: 24/24 Linguagem: Português
10.5380/rv.v1i24/24.20881
ISSN2317-4021
Autores Tópico(s)Literature, Culture, and Criticism
ResumoA cidade medieval encarnava a dicotomia entre a vida terrena e a vida no alem, a vida de possibilidades de relacoes sociais promovidas pela diversidade de pessoas que nela circulavam e que trocavam experiencias. Clerigos, comerciantes, mestres, guerreiros, prostitutas, citadinos. Mundos, culturas, pensamentos, comportamentos diversificados, mas cujo relacionamento era permitido pela composicao da vida urbana que se assemelhava a um teatro da convivencia de sistemas de valores particulares, ainda que dentro de um ordenamento teorico trifuncional. E justamente por permitir essa conjuncao de diferentes elementos, a cidade medieval admitia uma ambiguidade, fonte da dicotomia entre a vida terrena e a vida celestial, uma “sociedade da abundância” , fator que contribuiu para a dualidade de sua definicao, pois ela apresentava-se, “de um lado, Henoc, Sodoma, Babel, Babilonia. Do outro, Jerusalem, a cidade de Deus”. A cidade medieval era, portanto, uma simbiose entre multiplas individualidades e diferentes formas de interacao, de exclusao social e ate mesmo de critica, como a poesia dos goliardos, esses clerigos errantes com espirito provocador e anarquista . Tal ambiente, centro de novas mentalidades, tambem foi propicio para o desenvolvimento da cultura e da propagacao do conhecimento, que possibilitou o desenvolvimento tanto das atividades ligadas ao comercio e ao artesanato como as do intelecto. A cidade medieval, portanto, possuia uma dinâmica que proporcionava o encontro de diferentes individuos e, consequentemente diferentes formas de expressao e de acao no convivio social. Uma dessas experiencias foi aquela que transformou o mundo em uma reflexao racional, ou seja, a vida intelectual que, muito mais do uma forma de expressao, se constituia como um estilo de vida, como pode ser verificado na leitura das correspondencias de Abelardo e Heloisa, a fonte de estudo desse trabalho. A versao utilizada foi a edicao de 1989, da editora Martins Fontes, com o prefacio de Paul Zumthor. O livro traz a compilacao do manuscrito, composto de um relato de Abelardo, o qual escreveria a um amigo sobre os infortunios pelos quais passou apos ter se deparado com a jovem Heloisa, cuja fama a antecedera ao conhecimento de Abelardo, devido a sua espetacular educacao. Esse relato e conhecido como Historia calamitatum mearum, historia das minhas calamidades, pois, como o proprio nome sugere, conta os infortunios que atingiram o filosofo do momento em que sua relacao com Heloisa foi desvendada ate o que escreve. Apos, segue-se uma serie de quatro cartas (duas de Heloisa a Abelardo e duas de Abelardo a Heloisa), as quais revelam as posicoes dos antigos amantes sobre os percalcos pelos quais passaram e sobre a situacao a qual estavam submetidos no momento em que rememoraram sua historia, fornecendo diferentes experimentacoes do passado comum. Alem dessas cartas, de carater pessoal, seguem outras, de carater formal, cuja tematica desenvolve-se em torno da administracao do monasterio do Paracleto, do qual
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