Artigo Acesso aberto Produção Nacional

GILLES DELEUZE, FRANCIS BACON

2003; Emerald Publishing Limited; Issue: 57 Linguagem: Português

10.11606/issn.2316-9036.v0i57p160-168

ISSN

2316-9036

Autores

Léon Kossovitch,

Tópico(s)

Memory, Trauma, and Testimony

Resumo

Sendo embora o unico livro de Gilles Deleuze sobre pintura, Francis Bacon Logique de la sensation nao e apartavel, pois ressoa, como painel de poliptico, com outros textos seus. A articulacao, operador comum a Bacon e Deleuze, a poliptico e textos, assegura passagens entre os pares, efetuadas como saltos, tropismo de troca ou de simples transferencia de atributos, porque nao invocam o continuo, nem reconhecem hierarquia. Evidencia-se, assim, Deleuze, que analisa Bacon, com Bacon: o painel pictorico deste expoe as vicissitudes dos conceitos daquele, como a retomada de alguns dos ja firmados em outros textos, tendo-se por mudados apenas os campos de aplicacao respectivos, ou o surgimento, precisamente no painel em tela, com a inclusao de arte e conceitos baconianos, de novos, que dilatam o repertorio conceitual. A articulacao interdita apartamentos, mas, muito mais, continuidades redutoras do poliptico a uma superficie una, que, desdelimitando os paineis, configuram, em Deleuze, texto forcado a representar outros, seus supositorios, porque postulantes de obra, estendida sobre o continuo e pendente do um. Especificada como separacao em Deleuze, a articulacao especializa-se como moldura em Bacon: a representacao, como fluencia entre todo e parte, traca a concordância de textos sempre em algo discordantes com uma obra una, ao passo que a ilustracao, como auxiliar da narracao, promove a diluicao da pintura. Nao ocorre, porem, desintensificacao de imagem e texto quando os agenciamentos sao justapositivos, pois a contiguidade assegura a exterioridade, representativa e narrativamente, de paineis a paineis, de textos a textos, de sorte que os conceitos, escapando ao organizatorio, combinam-se fora dos parâmetros do um e do continuo. Em Bacon, nao opera o um, simplesmente para que haja poliptico, assim, imagens fortes, nao ilustracoes fracas: nada narrando, nele se expoe a equivalencia dos paineis, portanto, sua indiferenca reciproca no que concerne a historia. Cortantes, as molduras garantem, nos paineis, imagens a um tempo diretas, intensas e instintuais: distinguindo entre o cerebrino da narracao e o nervoso da pintura, entre a acao indireta na ilustracao e a direta na imagem, Deleuze defende a forca da sensacao contra a fraqueza do pensamento, tanto no plano da execucao,

Referência(s)
Altmetric
PlumX