
Importância do ensino das doenças infecciosas e parasitárias no Brasil
1980; Brazilian Society of Tropical Medicine; Volume: 13; Issue: 1 Linguagem: Português
10.1590/s0037-86821980000100001
ISSN1678-9849
Autores Tópico(s)History of Medicine and Tropical Health
ResumoOs conhecimentos sobre as doencas infecciosas e parasitarias no Brasil datam do seculo XV II, quando foram feitas as primeiras descricoes de epidemias entre os aborigenes, negros e colonizado res, destacando-se o Tratado Unico da Constituicao Pestilencial de Pernambuco, de autoria de Joao Ferreira da Rosa, que descreve a epidemia de febre amarela ocorrida no Nordeste entre 1680 e 1694, com elevpda mortalidade da populacao. Epidemias de variola principalmente entre aborigenes foram descritas pelos missionarios catequistas e algumas doencas isoladas como o bicho do pe’’ (Tunga penetrans) pareciam frequentes entre os escravos em epoca posterior. As descricoes, entretanto, eram raras, dado o maior interesse dos naturalistas e fis icos pela descricao da fauna e da flora como a publicacao em 1648 da His toria Natural is Brasiliae de autoria de George Ma regra f f e Guilherme de Piso, integrantes da mis sao do Conde Mauricio de Nassau. A primeira organizacao de estudo sistematico das doencas ocorrentes no Brasil, de carater cientifico e investigativo, surgiu com a chamada Escola Tropicalista Bahiana em torno de 1850, portanto mais de 40 anos depois de criadas as Escolas de Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro, respectivamente em fevereiro e novembro de 1808, dirigidas para o ensino pratico e sintomatico da medicina e cirurgia. John Peterson, Otto Wucherer, Silva Lima e mais tarde Pires Caldas, Virgilio Damazio e Paci fico Pereira, desenvolveram em meados do seculo passado, na Bahia, um verdadeiro Centro de Es tudos de Medicina Tropical, fundando posteriormente a Gazeta Medica da Bahia. Antes porem, em 1829, Soares de Meirelles, Vicente de Simon, Jose Francisco Sigaud, Cruz Jobim, Jean Maurice Faivre, Pereira Reis e Mariano da Silva, fundavam no Rio de Janeiro a Sociedade de Medicina, pre cursora da Academia Imperial, hoje Academia Nacional de Medicina, importante forum de estudos e de aconselhamento governamental sobre os problemas de saude publica, destacando-se entre eles as doencas endemicas que assolavam o nosso pais, como registram os Annaes da Academia Imperial de Medicina. As grandes epidemias do fim do seculo passado e inicio deste seculo, como ja nos referimos, encontraram as Escolas Medicas despreparadas para enfrenta-las, por falta de tradicao dos conheci mentos basicos de microbiologia e de saude publica e, ate pelo contrario, a forte tradicao clinica inibia o desenvolvimento e o credito na medicina experimental. Varios episodios confirmaram essa afirmacao; entre estes destaca-se o diagnostico bacteriologico da febre tifoide e da colera desenvol vido por Adolfo Lutz entre 1894-1895, com forte oposicao da Sociedade Medica e Cirurgica de Sao Paulo, que insistia no diagnostico clinico atraves de sinais e sintomas imprecisos. O mesmo ocorreu com Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro no principio deste seculo e ate mesmo com Carlos Chagas ja na decada de 1920, quando se procurou contestar na Academia Nacional de Medicina a sua descoberta. Aqueles episodios marcaram de forma contundente a forte oposicao da medicina tradicional com a medicina cientifica, tendo ainda hoje os seus reflexos quando se deseja extinguir ou incorpo rar a Medicina Tropical como um simples conteudo curricular da medicina clinica, ignorando-se a
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