
A visão de um espectador - Para aprender a olhar a cidade. Só ela?
2012; School of Communications and Arts of the University of São Paulo; Volume: 12; Issue: 2 Linguagem: Português
10.11606/issn.2238-3867.v12i2p264-266
ISSN2238-3867
Autores Tópico(s)Cultural, Media, and Literary Studies
ResumoE noite e estamos reunidos diante da porta fechada de um pequeno shopping incrustado numa rua estreita do Bom Retiro – bairro paulistano especializado no comercio de roupas. O grupo tem em comum a duvida do que ira assistir. O espetaculo vai comecar a qualquer momento, mas ainda nao comecou. Nao? Enquanto esperamos o inicio da peca “Bom Retiro 958 metros” observamos a paisagem noturna da rua adormecida. Nada acontece ali nesse horario. A rua de apenas uma quadra nao tem movimento, nem de pessoas nem de automoveis, o que leva o grupo a sair das calcadas e esperar no asfalto. Com indiscricao olhamos as vitrines, que ainda nao querem exibir-se. Nosso olhar vai mudando de foco, para tornar-se propenso a captar sinais, receber informacao, fazer relacoes, perceber sutilezas. Uma peca de teatro vai comecar. Vai? Entao a anestesia otica com que andamos na cidade tem de ser desativada e substituida. Mas estamos na cidade, nao entramos em um teatro. O teatro e la mesmo. A experiencia estranhadora comeca nesse momento. Somos espectadores de uma apresentacao teatral, mas ela nao comecou. Nao? E, na rua, entao somos o que? Apenas cidadaos. Olhando a rua. De outro jeito, pois nosso olhar ja nao e aquele com que chegamos – pois fomos ate la apenas como espectadores. Nossa relacao com a cidade, utilitaria e funcional, nao nos capacita a parar em uma rua e ficar, olhar, observar, sentir, pensar. So fazemos isso em viagens, quando estamos fora de Sao Paulo. A rua e publica, de todos – logo nao e nossa (a cidade dos proprietarios-consumidores), e dos que por nao terem nada so podem ter o que e publico. Por isso o territorio e estranho e a situacao desconfortavel. Na rua morta, fora do horario comercial, nao ha mais ninguem – so nos. As vitrines das lojas parecem pequenos palcos, com espetaculos comprimidos de bonecos. Cenografias montadas para o espetaculo do dia seguinte.
Referência(s)