
Viver as contradições e tornar-se sujeito na produção social de nosso espaço de práticas
2011; UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA; Volume: 18; Issue: 58 Linguagem: Português
10.1590/s1984-92302011000300010
ISSN1984-9230
AutoresMaria Ceci Misoczky, Sueli Goulart,
Tópico(s)Social and Political Issues
ResumoRefl etir sobre o nosso processo de trabalho e sempre importante, principalmente quando o fazemos no âmbito de um debate de ideias como este veiculado na Revista OS do ritmo e da orientacao do trabalho aos criterios de avaliacao dos programas de pos-graduacao nos quais estamos. Ainda que esta agenda seja relevante e pertinente, os avancos obtidos sao poucos, ja que as abordagens tendem, majoritariamente, a tratar tais problemas como se fossem externos a nos, como se fossemos determinados por estruturas que impoem praticas as quais todos nos subordinamos como se nao tivessemos capacidade para a acao. Em vez disto, defendemos que, apesar da fetichizacao da producao academica (TREIN; RODRIGUES, 2011) e da forca institucionalizada/institucionalizadora de organizacoes como a CAPES, o CNPq e a propria ANPAD, a atividade intelectual 1 permanece vigente em nossos espacos de trabalho e, mais que isto, a organizacao e a acao politica constituem-se em possibilidades que cabe a nos tornar realidade. Iniciamos por lembrar que a Universidade esta na totalidade social e que, portanto, ao mesmo tempo em que se constitui em expressao da sociedade e das forcas e ideias hegemonicas, tem a responsabilidade de refl etir, criticar e antecipar-se na construcao de alternativas. Ao ignorar essa contradicao, que nos constitui de modo fundante, teremos difi culdades para lidar com a dialetica de ser parte do sistema e precisar modifi ca-lo. Alem disto, corremos o risco, antecipado na advertencia de Adorno (1998), de assumir uma aparencia critica que, no entanto, e profundamente conservadora em seu conteudo. Esta difi culdade se expressa no tratamento usual que tem sido dado ao tema. Um exemplo se encontra no artigo de Spink e Alves (2011), publicado no numero anterior desta Revista. Nele, os autores defendem o argumento de que nao e possivel articular “uma universidade conectada e sem muros”, que faca parte da construcao da sociedade civil e esteja inserida em espacos de discussao acessiveis a publicos mais amplos, com o que denominam “demandas produtivistas de um constante fl uxo de publicacoes em ingles” (SPINK; ALVES, 2011, p. 341). Mais que isto, os autores afi rmam que nossa acao e defi nida pelo espaco organizacional, ou seja, estar em um programa de pos-graduacao, nivel 7, implica em automatica subordinacao ao produtivismo e desconexao da sociedade. Criticas como estas sao conservadoras em seu conteudo porque se restringem a aparencia do fenomeno ao qual se opoem e, ao ignorar seus vinculos com a totalidade social e, por conseguinte, com as relacoes de poder que o constituem, fazem indicacoes de caminhos que, em vez de romper com a logica que os origina, a deixarao intocada e, mesmo, reforcada. Em nosso entendimento, explorar algumas das relacoes que defi nem nosso espaco de pratica contribui para exercitarmos, ainda que de modo introdutorio, uma critica que seja capaz nao apenas de denunciar, mas, como ensina Paulo Freire (2006), tambem de produzir anuncios.
Referência(s)