Artigo Acesso aberto Revisado por pares

Árvore de Cracóvia<A HREF="#n01">1</A> ou editoração científica

2004; UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ; Volume: 9; Issue: 2 Linguagem: Português

10.1590/s1413-73722004000200001

ISSN

1807-0329

Autores

Maria Lúcia Boarini,

Tópico(s)

Cultural, Media, and Literary Studies

Resumo

Em Paris, pelos meados do seculo XVIII, periodo que antecedeu a Revolucao Francesa, as noticias, as informacoes, as ideias enfim, so podiam ser editadas e impressas apos passar por uma muralha de duzentos censores. Vencido este feito heroico, o editor “liberado” deveria submeter-se aos inspetores de livros, divisao policial responsavel pela implementacao e controle das decisoes dos censores. O editor que transgredisse esta determinacao pagaria tal ousadia com a propria vida e por esta razao seria conduzido ao cadafalso (Darnton, 1989, p. 187). Nao obstante, as possibilidades do ser humano nao se deprimem nem se esgotam por conta da vontade dos governantes de plantao. Assim, nesse periodo, para saber o que de fato acontecia na sociedade e sobretudo nos bastidores do reino, as pessoas se reuniam - dentre outros lugares publicos - a sombra da alta e frondosa Arvore de Cracovia. Esta arvore, localizada no centro de Paris, nos jardins do Palais Royal, abrigava sob sua copa os “’nouvellistes de bouche’ ou transmissores orais de noticias, que espalhavam informacoes boca-a-boca sobre os acontecimentos mais recentes” (Darnton, 2000). Assim, sem qualquer trabalho de editoracao e, alem disso, sem que nenhum editor fosse levado a forca, este sistema de circulacao de noticias muito contribuiu para a derrubada do Antigo Regime e a realizacao da historica Revolucao Francesa. Em nossos dias e em nosso pais, felizmente, nenhum editor, ainda que seja declaradamente opositor as ideias vigentes, e levado a morte, qualquer que seja seu veiculo de comunicacao. Sublinhe-se que este e um principio incontestavel em um regime democratico. Por outro lado, se atualmente nenhum editor corre o risco de vida ao tornar publicas ideias suas ou de outros autores, a forma como a comunidade cientifica, na area da Psicologia, vem percebendo o trabalho, propriamente dito, de editoracao dos periodicos cientificos parece se aproximar dos idos tempos da Arvore de Cracovia, salvo erro de generalizacao. Senao vejamos. Nao e novidade alguma a exigencia, por parte das agencias de fomento a pesquisa, de tornar publica a producao do saber de carater cientifico. E isto se fara atraves da divulgacao desse conhecimento em eventos e periodicos reconhecidos pela comunidade cientifica. A nosso juizo, esta exigencia, preservada dos exageros, e necessaria e legitima. Sem entrar no merito do debate, entendemos que esta divulgacao do saber tem um carater de ordem etica, dentre outros, se considerarmos que, alem do fato de que a ciencia e uma producao coletiva, grande parte destes estudos foi financiada pelo erario publico, portanto, nada mais razoavel que submete-lo a critica externa. Mas dira o leitor, intrigado: o que tudo isto tem a ver com a Arvore de Cracovia? Esclarecemos em seguida. Ao encaminhar os resultados de seus estudos a um periodico cientifico, o autor nao deve estar esperando que este seja afixado em uma arvore e la aguarde o publico interessado. Os tempos sao outros. Em nossos dias, nossas arvores, quando as deixamos viver, nao tem mais a funcao de abrigar as ideias. Estas (as ideias) tem um longo caminho a percorrer, o qual, simplificando, diremos que tem como ponto de partida um ritual burocratico (catalogacao, carta acusando recebimento etc.) para alcancar a roda-viva de um processo de avaliacao pelos pares ou consultores ad hoc. Estes, via de regra, sao profissionais especialistas na tematica do texto sob avaliacao, que, silenciosa e sigilosamente, contribuem para a qualificacao de uma publicacao cientifica. E necessario observar que nessa fase o trabalho de editoracao cientifica ramifica-se, multiplica-se, aumentando, desta forma, o numero dos encaminhamentos necessarios e seu raio de acao. Avaliado o trabalho e emitido o parecer pelos consultores ad

Referência(s)