Artigo Acesso aberto Produção Nacional Revisado por pares

Pisada como pano de chão: experiência de violência hospitalar no Nordeste Brasileiro

2008; UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO; Volume: 17; Issue: 1 Linguagem: Português

10.1590/s0104-12902008000100006

ISSN

1984-0470

Autores

Annatália Meneses de Amorim Gomes, Marilyn Kay Nations, Madel Therezinha Luz,

Tópico(s)

Medical Malpractice and Liability Issues

Resumo

Apesar de recentes esforços para melhorar a qualidade dos serviços públicos de saúde no Brasil, iniqüidades e violência institucional persistem nos hospitais. Este estudo antropológico-crítico investiga a experiência humana da hospitalização do ponto de vista do paciente internado em um hospital público, localizado em Fortaleza, capital do Ceará, no Nordeste brasileiro. Um método qualitativo original, "O Percurso do Paciente" foi criado e utilizado, mesclando entrevista etnográfica, narrativa do paciente coletada prospectivamente durante a internação, desde a chegada no hospital até a alta, e observação-participante, seguindo-se o percurso de 13 informantes-chaves. Os resultados revelaram 225 experiências distintas de hospitalização narrados pelos pacientes. A maioria (83,6%) dos acontecimentos foi interpretada como "desprezo" e "humilhação"; somente 16,4% foram percebidos como "zelando" pelo paciente, contribuindo para a recuperação da sua saúde. Desvelaram a progressiva desmoralização do "paciente suspeito" desde a sua recepção por um guarda uniformizado até o confisco de pertences pessoais. A hospitalização é caracterizada por abandono, solidão e aprisionamento, em virtude da imposição de normas, regras e procedimentos que ignoram a autonomia, condições pessoais e subjetividade do paciente. Apesar da estrutura opressiva, pacientes resistem às agressões, utilizando múltiplas estratégias: traços pessoais, imaginação criativa, solidariedade social e fé religiosa. Humanizar a hospitalização pública no Nordeste brasileiro requer incluir a voz e a experiência do paciente, removendo os estigmas que o prejudicam.

Referência(s)