
Sobreviver ao trabalho
2004; Fundação Getulio Vargas, Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas; Volume: 2; Issue: 3 Linguagem: Português
10.1590/s1679-39512004000300011
ISSN1679-3951
Autores Tópico(s)Business and Management Studies
ResumoPara os ocidentais o trabalho e maldicao. Desde a sentenca biblica “ganharas o pao com o suor do teu rosto”, ele se identifica com a expulsao do paraiso. No imaginario brasileiro quem esta bem e quem nao tem que traba-lhar. Os senhores nao trabalhavam. Ainda hoje acontece de algum rico herdeiro ser celebrado pela imprensa porque nunca trabalhou. As pregacoes destinadas a enobrecer a labuta –notadamente as da epoca vitoriana- nao conseguiram convencer. Em paises em crise, o emprego vive o paradoxo de ser considerado bencao e sacrificio ao mesmo tempo. E os que se degladiam por um “lugarzinho” precario no mercado de trabalho sao absurdamente recriminados pelos psicologos, que teimam em aconselhar tarefas gratificantes como requisito para a boa saude fisica e mental. Toda essa tematica gira em torno do trabalho alienado, daquele que se faz porque nao ha outro meio de sobre-vivencia. O fazer e o criar, porem, estao na natureza humana. E o que se faz por prazer, na procura nao imposta por outrem de algum tipo de satisfacao, integra legitimamente o processo de “realizacao” do ser humano. O trabalho sempre foi materia de reflexao intelectual. Ele tem lugar destacado na predica religiosa, na moral, na filosofia, na sociologia. Deu lugar a disciplinas inteiras: a administracao nada mais e do que uma reflexao e uma prelecao sobre as formas e os componentes do trabalho. Sobre como torna-lo mais eficiente e util, seja pa-ra melhor produzir, para aumentar os lucros ou para melhor servir ao interesse publico. O livro do professor Thiry-Cherques acrescenta uma dimensao original e iluminadora. Ele analisa as atitudes que o ser humano assume perante o trabalho organizado; como as pessoas conseguem sobreviver diante de or-ganizacoes imensas, que tendem a sugar-lhes a capacidade em favor de interesses que nao as incluem. De forma erudita, mas engenhosa e amena, o autor seleciona figuras miticas ou do mundo literario, encontrando em cada uma delas uma forma criativa de se posicionar no mundo do trabalho. Assim, encontramos a alienacao total ante o sistema encarnada pelo mito judaico do Golem. Franz Kafka representa quem nao encontra sentido algum no sistema, e nesse sentido
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