Artigo Acesso aberto Produção Nacional Revisado por pares

Novidades na cirurgia de catarata: lentes intraoculares asféricas

2009; Sociedade Brasileira de Oftalmologia; Volume: 68; Issue: 4 Linguagem: Português

10.1590/s0034-72802009000400001

ISSN

1982-8551

Autores

Newton Kara-Júnior,

Tópico(s)

Ophthalmology and Visual Impairment Studies

Resumo

Com o desenvolvimento de sensores de frente de onda e a popularização dos aparelhos de "Wave Front" foi possível avaliar, com boa precisão, o desempenho do Sistema Óptico humano.Assim, conseguiram-se caracterizar algumas das imperfeições deste Sistema, como as aberrações ópticas (de alta e de baixa ordem), que podem comprometer a qualidade visual.Algumas destas deficiências ópticas podem ser compensadas com lentes corretoras (aberrações de baixa ordem), outras não (1)(2) .Sabe-se também que, embora o Sistema Óptico ocular (córnea, cristalino, humor vítreo) seja imperfeito, projetando uma imagem "degradada" na superfície da retina, a imagem que realmente chega ao córtex cerebral é, em geral, quase perfeita.Isto ocorre porque o Sistema Sensorial (neuroadaptação) compensa grande quantidade das deficiências da porção óptica do globo, fazendo com que o Sistema Visual como um todo seja surpreendente.Porém, em algumas situações, aberrações em excesso podem comprometer a qualidade visual, tal como a aberração esférica que diminui a sensibilidade ao contraste em ambientes com pouca iluminação.Neste contexto, a oftalmologia moderna tem a oportunidade de corrigir algumas das deficiências ópticas do globo ocular, principalmente quando é realizada a cirurgia de catarata, com implante de lentes intraoculares (LIO) especiais ("premium").Mesmo considerando que algumas aberrações ópticas não precisam de correção externa, uma vez que o Sistema Sensorial ocular já se encarrega de sua compensação, acreditamos que a redução de determinadas imperfeições ópticas podem trazer benefícios visuais em situações específicas.Desta forma, embora o objetivo principal da cirurgia de catarata continue sendo a melhora da qualidade visual por meio da substituição do cristalino opacificado, consideramos que, em casos específicos, possa haver benefícios adicionais com implante de LIOs especiais (2)(3)(4) .Uma modalidade de imperfeição óptica ocular que não pode ser resolvida com lentes corretoras (óculos), mas é passível de compensação com LIOs especiais, é a aberração esférica (alta ordem), a qual se trata de uma imprecisão na asfericidade periférica da córnea (a superfície corneal periférica é mais plana do que deveria ser), que prejudica a visão de longe em situações de pouca luminosidade, quando a midríase pupilar permite que os raios luminosos que incidem na periferia corneal sigam em direção à retina; esses raios serão focalizados anteriormente à mácula, diminuindo a qualidade visual (1)(2)(3)(4) .Já foi demonstrado que, com a idade, a qualidade óptica vai se deteriorando, e uma possível causa desta degradação é a inversão de padrão de aberração esférica do cristalino, de negativo no adulto jovem (que compensaria parcialmente a aberração corneal positiva), para valores negativos menores, ou até positivos quando o cristalino está opacificado (2,3) .As lentes esféricas convencionais são refrativamente similares ao cristalino adulto, apresentam aberração esférica positiva, ou seja, além de não compensarem a aberração esférica corneal (em média +0.27mm), mantêm a mesma indução adicional de aberração positiva do cristalino maduro.Entretanto, os pacientes em geral não se queixam, pois era a aberração óptica que eles, por muito tempo, já apresentavam devido à catarata.Porém, com implante de LIOs esféricas, são privados da oportunidade, teórica, de se melhorar ainda mais a visão, após a facectomia.A solução proposta para compensar a aberração esférica é o implante da LIO asférica (aberração negativa), que corrigirá, ao menos parcialmente, a direção dos raios incidentes periféricos (aberração positiva) em ambientes com baixa luminosidade (5,6) .As lentes asféricas variam em relação a asfericidade, de forma que, as LIOs mais utilizadas, Tecnis (AMO), Acrysof IQ (Alcon labs) e Akreos AO (Bausch & Lomb), apresentam diferentes potenciais para compensação da aberração esférica da córnea.A aberração esférica corneal na média populacional é de 0.27mm positivos; teoricamente em condições de diâmetro pupilar de 6 mm, a LIO Akreos AO (Baush & Lomb) apresenta 0.0mm de aberração esférica residual, ou seja, são livres de aberração; a LIO Tecnis (AMO) possui asfericidade de -0.27mm, tentando compensar totalmente a aberração corneal considerando a média populacional e a LIO Acrysof IQ (Alcon labs) -de 0.20mm, que deixa, se considerada a média populacional, um residual de aberração positiva de 0,07mm (6) .Na indicação de LIOs asféricas alguns fatores individuais (7) devem ser considerados: É notório que alguns pacientes idosos apresentam miose senil, nesses casos em que o diâmetro pupilar é inferior a 4mm, mesmo se houver aberração corneal esférica, os raios luminosos aberrados não passarão pela pupila, assim, nestas condições, o implante de LIOs asféricas seria desnecessário.Em casos que o paciente já foi submetido à cirurgia refrativa à Laser para hipermetropia, a córnea periférica já está mais curva, ou seja, a aberração corneal periférica passou a ser negativa.Nestas situações, a LIO esférica convencional é indicada para se compensar a nova aberração induzida.Por outro lado, nos casos

Referência(s)