
Fim da doação remunerada de sangue no Brasil faz 25 anos
2005; Elsevier BV; Volume: 27; Issue: 1 Linguagem: Português
10.1590/s1516-84842005000100001
ISSN1806-0870
Autores Tópico(s)Health, Nursing, Elderly Care
ResumoEleito para a Diretoria da Sociedade Brasileira deHematologia e Hemoterapia (SBHH) para o bienio 1979-1981,na primeira reuniao foram avaliados os dois maiores proble-mas do setor. Na area da Hematologia, um dos problemas eraque, nos paises desenvolvidos, as leucemias agudas da in-fância tinham 50% de cura, enquanto no Brasil eram raros oscasos de cura. Apos algumas reunioes, a Dra. Silvia ReginaBrandalise formou o grupo brasileiro de Tratamento deLeucemias Agudas na infância e com suporte da SBHH insti-tuiu o primeiro protocolo nacional que comeca a colocar oBrasil com resultados comparaveis aos resultados interna-cionais.O outro problema na area de Hemoterapia estava nafalta de doadores, levando os servicos publicos a exigenciade doacao de sangue para internar os pacientes ou a realiza-cao de coletas de sangue em presidios. Os bancos de sangueprivados, por sua vez, recorriam nas capitais e cidades demedio porte a doacao remunerada, criando, assim, uma pro-fissao – a do doador gratificado.A comissao indicada pela Diretoria da SBHH e consti-tuida por Pedro Clovis Junqueira e Jacob Rosemblit, entreoutros, apresentou entao uma proposta de campanha de Do-acao Voluntaria de Sangue com cartazes e folhetos.Uma das causas da baixa doacao de sangue estava naproibicao de solicitacao de doacoes de parentes e amigosdos pacientes da Previdencia Social, pois os sindicatos enten-diam, aquela epoca, que o Governo pagava o sangue e, porisso, nao havia a necessidade de reposicao dos estoques.A SBHH enviou cartas aos Ministerios da Previdenciae da Saude e pediu apoio a campanha de doacao voluntaria,nao tendo sequer obtido resposta a solicitacao.Em dezembro de 1979 compareci a uma entrevista pu-blica com o entao ministro Jair Soares e apresentei a campa-nha de doacao voluntaria da SBHH. O ministro afirmou quedeveriamos apresenta-la no Congresso de Doacao Volunta-ria, organizado pela Associacao dos Doadores Voluntariosde Sangue, no mes de fevereiro do ano seguinte, em Brasilia.A SBHH, na ocasiao, ja havia protestado, junto aosorganizadores deste evento, da ausencia de hemoterapeutasbrasileiros no programa, pois so haviam sido convidadoscolegas europeus, e o unico brasileiro convidado era um es-pecialista em molestias infecciosas.Juntamente com Leonel Szterling e Nelson Hamerschlakcompareci ao encontro e no evento questionei as coloca-coes ofensivas a classe medica hemoterapeuta e ao rotuloindiscriminado de comerciantes de sangue. Apresentei en-tao a nossa campanha, que ja comecava a ter apoio da soci-edade e da maioria dos hemoterapeutas brasileirosEm marco de 1980, a SBHH foi convidada para assistirem Brasilia ao lancamento do Pro-Sangue. Neste documento,o governo posicionava-se de forma clara pela doacao volun-taria de sangue e estabelecia um projeto de estatizacao daatividade hemoterapica com a substituicao dos servicos pri-vados pelos publicos.Reunidos com os hemoterapeutas em Sao Paulo foi de-cidido que a doacao remunerada deveria ser extinta.Estudando os modelos de hemoterapia existentes ob-servou-se que hospitais privados como o Albert Einstein,Santa Catarina e Sirio Libanes ja conseguiam manter o esto-que de sangue com a reposicao voluntaria, e alguns dosservicos publicos, como o do Hospital do Servidor do Esta-do de Sao Paulo, capital, tambem coletavam sangue no locale mantinham o seu suprimento de sangue sem recorrer a do-acao remunerada.A experiencia mundial de paises que deixaram de remu-nerar doadores mostrou que, para se atingir a doacao altruis-ta, era necessario um estagio intermediario com o apelo adoacao de reposicao entre amigos e familiares dos pacientesque necessitavam de transfusoes.Assim definiu-se um modelo em que o hemoterapeutapassava a atuar dentro dos hospitais dando suporte aos co-legas no diagnostico e na terapeutica das hemorragias e do-encas onco-hematologicas. Como estas situacoes ocorriamem pacientes internados, passou-se a atuar na obtencao dedoadores junto a amigos e parentes dos internados dirigin-do-se a coleta de sangue para dentro dos hospitais. Alemdisso, era necessario que os hospitais instalassem areas paraa coleta de sangue em suas instalacoes, permitissem suascampanhas de doacao e o corpo clinico colaborasse na acaode convencimento da necessidade de doacao de sangue.Na ocasiao procurei o Dr. Pedro Kassab, presidente daAMB, que nos orientou em definir um dia a partir do qual naohaveria mais doacao remunerada. Este dia D deveria serprecedido por acoes que facilitassem o objetivo final.Assim, realizei os seguintes passos para o encerramen-to da remuneracao ao doador de sangue:1. Consultei o Conselho Regional de Medicina (CRM)sobre responsabilidade no fornecimento de sangue. O orgaodefiniu que o suprimento do sangue era de responsabilidadeda comunidade, dos medicos, dos enfermeiros e tambem doshemoterapeutas. Assim, este deixava de ser o unico respon-savel pela obtencao do sangue.2. Solicitei do superintendente do Instituto Nacionalde Medicina e Previdencia Social (Inamps), Dr. Camanho,para que se pudesse coletar sangue de amigos e parentesdos pacientes da Previdencia Social.
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