Artigo Acesso aberto Revisado por pares

Mudança organizacional: teoria e gestão

2003; Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (ANPAD); Volume: 7; Issue: 4 Linguagem: Português

10.1590/s1415-65552003000400012

ISSN

1982-7849

Autores

Marcelo Milano Falcão Vieira,

Tópico(s)

Business and Management Studies

Resumo

O livro Mudanca Organizacional: Teoria e Gestao, organizado por Suzana Maria Valle Lima, pesquisadora da EMBRAPA e professora associada do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasilia, onde leciona a disciplina Mudanca Organizacional para os alunos de pos-graduacao, e uma grata surpresa. Isto porque ha muito nao se tem uma boa publicacao em lingua portuguesa sobre o tema. Se nao me falha a memoria, desde a publicacao de Transformacao Organizacional, de Paulo Roberto Motta, em 1999. Mudanca organizacional e um tema sobre o qual muito se fala; porem, no que se refere as publicacoes cientificas, normalmente percebe-se a falta de definicoes conceituais claras no plano teorico, o que prejudica a analise dos casos empiricos relatados e, portanto, a sua replicacao em termos de pesquisa academica. Isto e lamentavel, pois a precisao conceitual conduz a operacionalizacao adequada das pesquisas que, quando evidenciadas nos trabalhos publicados, possibilitam replicacao, levando ao acumulo do conhecimento e ao avanco da ciencia. Neste sentido, o livro organizado por Suzana Maria Valle Lima contribui, particularmente no plano teorico, para esclarecer alguns pontos importantes sobre mudanca organizacional. A obra e uma coletânea de artigos sobre o tema escritos por professores e pesquisadores de universidades, faculdades e institutos de pesquisa de Brasilia, Rio de Janeiro, Salvador, Sao Paulo e Cidade do Mexico. Varios dos autores possuem experiencia internacional. O livro esta dividido em duas partes. A Parte I, composta por 6 capitulos e intitulada Fundamentos Teoricos e Metodologicos, reune textos que discutem o quadro conceitual vinculado a nocao de mudanca organizacional. A Parte II intitula-se Gestao da Mudanca Organizacional e e composta por 5 capitulos que oferecem elementos para a pratica da mudanca nas organizacoes, sejam publicas ou empresariais. Na Parte I o primeiro capitulo e de Suzana Lima e Cyndia Bressan. As autoras oferecem uma introducao sobre o tema do livro, discutindo o conceito de mudanca e suas diversas abordagens. Seguem com uma especie de passeio por temas correlatos e concluem o capitulo com uma descricao sobre como o tema mudanca organizacional e compreendido por diferentes perspectivas contemporâneas da Administracao (Contingencia, Ecologia Populacional, Abordagem Institucional e Pos-Modernismo). E, talvez, o melhor capitulo da obra por ser o mais didatico. As autoras pecam apenas por negligenciar os autores nacionais em sua revisao, principalmente na ultima parte do capitulo. Os capitulos de 2 a 5 apresentam diferentes facetas da mudanca organizacional, sem, entretanto, perderem a linha central de argumentacao que os une. Todos relacionam, de formas diferentes, o significado e a importância da dimensao ambiental para a analise da mudanca organizacional. O capitulo 2 discorre sobre as implicacoes de um ambiente em transformacao, que o autor chama de contexto global cambiante, para a mudanca institucional em organizacoes de desenvolvimento, conceito este que fica apenas implicito no texto. O capitulo 3, assinado por Maria de Fatima Bruno-Faria, trabalha os temas criatividade, inovacao e mudanca organizacional. Apresenta importantes contribuicoes para a distincao entre os conceitos e conclui propondo um corajoso modelo causal entre criatividade, inovacao e mudanca organizacional. Atribuo esse adjetivo ao modelo pelo fato de que relacoes causais sao extremamente dificeis de se examinar e comprovar na area de Estudos Organizacionais. No capitulo 4 Claudio Torres e Lorena Perez-Floriano trabalham a questao do transculturalimo relacionado a mudancaorganizacional. E um tema dificil e, talvez por isso, os autores nao avancem significativamente na analise das implicacoes da cultura na mudanca. Entretanto, apresentam uma boa revisao sobre o tema. O capitulo 5, de autoria de Heden Cardoso e Luis Carlos Freire, apesar de teorico e bastante instrumental. Nao poderia ser diferente, uma vez que se intitula Mudanca e Aprendizagem nas Organizacoes. A literatura utilizada e a dominante na area, de carater comportamental, e, para quem aprecia, e uma boa descricao do estado da arte. Finalizando a primeira parte do livro, o capitulo 6 diferencia-se dos demais porapresentar uma metodologia para avaliacao da mudanca organizacional. E bastante interessante, ainda que a autora, Elaine Rabelo Neiva, deixe claro no seu texto a necessidade de aprofundar e aprimorar a metodologia proposta. A Parte II do livro inicia com o capitulo de Suzana Lima, Antonio de Castro e Magali Machado, em que os autores apresentam os resultados de uma pesquisa sobre a gestao da mudanca na formacao de relacoes interinstitucionais. Os dados relativos ao estudo de caso empreendido sao ricos e a interpretacao dada pelos autores pode contribuir bastante para a analise de casos semelhantes. O capitulo 8 e assinado por Tomas de Aquino Guimaraes e Janann Joslin Medeiros. Os autores discutem a mudanca e a flexibilidade organizacional no âmbito da nova administracao publica, trazendo o conceito de gestao de competencias como uma ferramenta para melhoria dos processos organizacionais na area publica. O curioso e que defendem, na conclusao, a abordagem de competencia como uma tecnologia de gestao potencialmente neutra (!). O capitulo 9 e novamente um texto com carater instrumental. Ronaldo Pilati trabalha a relacao entre comprometimento do trabalhador e mudanca organizacional, apresentando oito proposicoes que instigam a realizacao de testes empiricos posteriores. No capitulo 10 Miramar Vargas traz a discussao o tema da educacao a distância, bastante polemico e atual. A autora discute o que muda nas organizacoes a partir da implementacao de programas de treinamento a distância, bem como aponta os cenarios futuros na area. A coletânea termina com um capitulo de Helga Hedler e Suzana Lima sobre as implicacoes das dimensoes da cultura nacional no planejamento estrategico. Para a discussao da cultura nacional prendem-se ao trabalho de Hofstede que, apesar de bastante referenciado, parece mais importante para dar suporte a trabalhos comparativos entre culturas do que para a analise aprofundada de uma realidade cultural especifica. No caso brasileiro, principalmente, ha autores nacionais que podem descrever e explicar melhor a cultura local. Apesar disso, o capitulo oferece muitos insights para pesquisas e aplicacoes futuras nas organizacoes. Por fim, gostaria de recomendar o livro Mudanca Organizacional: Teoria e Gestao, por ser uma obra bastante abrangente que, apesar de se apresentar na forma de coletânea de artigos, nao perde o fio condutor que os une. Acredito que o livro deva ser bastante util tanto para alunos de pos-graduacao como de graduacao em Administracao, Sociologia das Organizacoes e Psicologia Organizacional. E uma leitura agradavel, elucidativa, de um livro bem editado.

Referência(s)