O Brasil entre a América e a Europa: O Império e o interamericanismo, do Congresso do Panamá à Conferência de Washington
2008; Duke University Press; Volume: 88; Issue: 4 Linguagem: Português
10.1215/00182168-2008-040
ISSN1527-1900
Autores Tópico(s)International Relations in Latin America
ResumoPara o pesquisador atento, não passa despercebido o fato de haver um profundo distancia-mento entre o Brasil e os demais países da América Latina. É visível o desconhecimento que os brasileiros demonstram sobre a história dos seus vizinhos e vice-versa. É sobre esse instigante tema que o diplomata e historiador, Luís Cláudio Villafañe dos Santos, se debruça contribuindo para a reflexão sobre as integrações regionais e continentais ora em debate. O autor discute a política do Império brasileiro frente aos encontros inter-americanos realizados no século XIX: desde a célebre conferência do Panamá de 1826 -proposta por Simon Bolívar e com a intenção de integrar os países da América Latina de língua espanhola – até a conferência de Washington de 1889-1890, na qual os Estados Unidos lançaram o Pan-americanismo e a proposta de integração dos países do continente, sob sua liderança.O autor constata o afastamento do Brasil dos seus vizinhos desde o início do século XIX. Para ele, tal cisão está fundada na opção pela continuidade monárquica no Brasil e a instalação da república nos outros países da América Latina, após as independências das metrópoles. Escolhas políticas que provocaram desconfianças mútuas e justificaram a fissura entre um e outros. Somavamse aos diferentes regimes de governo implanta-dos, constituições identitárias contrapostas: enquanto o Brasil se alinhava à Europa, posicionando-se como um Império civilizado e detentor da ordem, representava as repúb licas vizinhas como anárquicas e rebeldes.Embora o Império brasileiro não tivesse uma linha clara para a sua política externa, esta se manifestou de forma variável através das questões relativas ao comércio, limites, navegação dos rios internacionais e tráfico de escravos. No entanto, Villafañe considera que se houve um aspecto permanente nas relações exteriores do Império, este se revelou na firmeza com que se empreendeu a distância com relação às repúblicas hispânicas.Apesar das diversas iniciativas de integração no século XIX, as idéias interamericanas que informaram a realização das conferências não englobavam um todo coerente e carregavam inclusive contradições em seus objetivos e alcances. Dessa forma, o autor propõe que esses encontros sejam compreendidos na sua dimensão política, uma vez que não havia bases econômicas para os projetos interamericanos.As fontes que fundamentam as considerações de Villafañe encontram-se no Arquivo Histórico do Itamaraty, no Rio de Janeiro, e constituem o acervo das missões diplo-máticas brasileiras. Nas conferências analisadas – Panamá (1826), Lima (1847 – 1848), Santiago (1856), Washington (1856), Lima (1864 – 1865) e Washington (1889 – 1890) – o autor verificou a ausência brasileira na maioria delas. Foram muitas as razões que levaram o Império a não enviar representantes às reuniões, tais como o temor da forma-ção de uma frente antibrasileira ou mesmo evitar temas no qual se visse isolado, como o candente tema do trafico negreiro implementado pelo Brasil, apesar das pressões inglesas pelo seu fim.A ausência brasileira nos encontros interamericanos explica-se também pelo fato de ser inviável para o Império participar de uma política interamericanista, pois isso colocaria em descrédito a identidade que propunha para si e o seu lugar de destaque frente às repúblicas hispano-americanas. Além do mais, os seus vínculos econômicos e culturais com a Europa não permitiam uma integração de fato com as repúblicas vizinhas.Os representantes do Brasil compareceram apenas na última conferência realizada em Washington, quando da proposição do Pan-americanismo pelo Secretário de Estado norte-americano James Blaine, mas com o regime monárquico já com os seus dias contados, pois a república foi instaurada no Brasil em 15 de novembro de 1889 -durante a realização da conferência de Washington. Nesta época, a diplomacia brasileira come-çava a se voltar para os Estados Unidos, mantendo o afastamento com relação aos outros países da América Latina.Dessa forma, o trabalho de Luís Cláudio Villafañe dos Santos é uma importante contribuição tanto para o campo da História como o das Relações Internacionais. Mostra que as iniciativas de integração interamericanas não estão circunscritas às do século XX. Fornece assim subsídios para pensarmos não apenas as questões das relações externas do século XIX, mas os problemas colocados às integrações regionais (Mercosul) e continentais (ALCA), propostas no século passado. Permite-nos refletir sobre as transformações próprias da História e, por outro lado, sobre a força das continuidades, como o distan-ciamento entre o Brasil e os outros países da América Hispânica ainda tão presente e determinante entre nós.
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